Alan Turing e Steve Jobs - Centro Universitário do Rio Grande do Norte - UNI-RN
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Alan Turing e Steve Jobs
01.12.2011

Kenneth Maxwell, articulista da Folha de S. Paulo, nascido na Inglaterra em 1941, é tido como um dos mais importantes brasilianistas vivos. Hoje, mora nos Estados Unidos e dirige o Programa de Estudos Brasileiros do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade Harvard. Seus bons artigos na Folha quase sempre abordam assuntos da cena internacional. No artigo "A hora dos calhordas", de 24 de novembro passado, ele relembra a vida triste de um notável cientista do século XX, Alan Turing (1912-1954) que se matou aos 41 anos. Por atos homossexuais, sob a Criminal Amendment Act, uma lei de 1855, foi condenado a receber doses semanais de estrógenos, a fim de reprimir sua libido. Segundo Maxwell, essa lei foi a mesma que condenou Oscar Wilde, em 1895. Numa noite chuvosa de 1954, em Manchester, o corpo de Turing foi encontrado, tendo ao lado restos de cianeto de potássio e uma maçã com várias mordidas. Alan Turing é conhecido como o pai da computação. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi contratado pelo governo britânico para integrar o grupo de estudos voltado para a quebra dos códigos da máquina Enigma, usada pelas forças alemãs. Em dois meses de trabalho, já era o líder do grupo de cientistas, sediado em Bletchley Park, no sul da Inglaterra, o sigiloso centro britânico de decodificação. Surge, então, a máquina Colossus, mais do que uma calculadora, mas ainda não era um computador programável. A Colossus, fruto da mente brilhante de Alan Turing, foi capaz de descobrir os segredos de guerra das tropas de Hitler, e, portanto, de ajudar a livrar o mundo da loucura nazista. Quando a Guerra acabou, Turing trabalhou no Laboratório Nacional de Física - NPL -, próximo a Londres, dirigido por Sir Charles Darwin, neto do grande biólogo de A Origem das Espécies, e na Universidade de Manchester. Foi quando desenvolveu suas ideias de um sistema automatizado de computação, o primeiro projeto de um computador moderno. Em vida, Alan Turing nunca recebeu as honras merecidas, mas o tempo fez-lhe justiça. A biografia Alan Turing: o Enigma, de Andrew Hodges (1983), e o filme Quebrando o Código (1986) contam sua história. Em 2009, uma campanha pública no Reino Unido exigia que o governo britânico pedisse desculpas ao cientista, uma forma, ainda que tardia, de reabilitar sua memória. O primeiro-ministro da época, Gordon Brown, nem esperou a entrega da lista de adesões à proposta: foi para a mídia e se desculpou, em nome do Governo, pelos erros cometidos na órbita dos Tribunais ingleses. Em novembro de 2009, em artigo que publiquei nesta Tribuna do Norte sobre este assunto, escrevi: Expiar os erros, mesmo sem redimir o passado, é uma boa prática de mea culpa e serve para alertar sobre as dores que não devem se apagar da memória humana. Não li a biografia completa de Alan Turing, porém tenho lido sobre seu pioneirismo científico, tal como nas páginas do livro Universo Elétrico, de David Bodanis - 2008. Ao começar a ler a biografia de outro gênio do mundo dos computadores, "Steve Jobs", obra do escritor Walter Isaacson - 2011, veio-me à mente a lembrança do criador da Colossus, que, pela primeira vez, formulou o conceito de hardware e software. Os dois cientistas não foram longevos, tiveram vidas conturbadas, mesmo que de perfis distintos. Há quem diga que o mundo não é mais o mesmo, depois das invenções de Steve Jobs. O criador da Apple, a empresa mais valiosa do mundo, do Macintosh, da imaginação digital - Toy Story -, do iPod, do iPhone, da iTunes Store, do iPad, deu um pulo no tempo e deixou um rastro de obsoletismo. Alan Turing, cerca de 60 anos após a morte, mantém-se vivo na gratidão humana. Steve Jobs também permanecerá no palco da história para receber igual tributo de futuras gerações?

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