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Leonardo da Vinci (1452-1519) é o criador de duas das mais famosas pinturas do mundo ocidental, a Mona Lisa e A Última Ceia. Chegar diante delas é anseio natural de quantos sabem da existência dessas geniais criações do homem. No tocante à Mona Lisa, há quase 50 anos, satisfiz esse meu intuito, além de outras idas ao Louvre. Faltava-me a emoção de estar vis-a-vis com The Last Supper, momentos que vivi na recente viagem à Europa, com visitas feitas a Milão e a Florença, na Itália. É difícil agendar uma entrada para o mosteiro/igreja de Santa Maria delle Grazie, em Milão, onde se encontra o mural A Última Ceia, que mede 4,60 m de altura e 8,80 m de largura, pintado em uma das paredes do refeitório dos monges. Tive sorte, e consegui dois ingressos para completar um grupo de poucas pessoas, com guia em inglês. Após a espera defronte à igreja/mosteiro, tivemos acesso – eu e Ana, minha esposa – ao refeitório mais venerado do mundo. Lá dentro, apesar da grande procura, somente um número reduzido de visitantes se reveza a cada 15 minutos, para um encontro rápido com Leonardo da Vinci.
Não dá para descrever a emoção desses instantes, misto de impulsos da fé e da devoção cristã, ao lado do deleite diante da arte de um dos maiores gênios da humanidade. É o lugar perfeito para se pensar na conjunção do divino com o humano. O ambiente é de paz, reflexão e de encanto. Desliguei-me do guia para sentir melhor aqueles instantes de aprazível emoção, e notei que outras pessoas do grupo fizeram o mesmo. De repente, uma gentil senhora, somente com gestos, informou que a visita acabara, estava na hora de sair.
Leonardo pintou A Última Ceia de 1495 a 1498, e tudo começou quando o Duque de Milão, Ludovico Sforza, resolveu construir um mausoléu sagrado para si próprio e para sua família. Escolheu, para esse fim, um mosteiro com uma igreja, o Santa Maria delle Grazie, no centro de Milão, e convidou o já famoso Leonardo da Vinci para pintar a última ceia de Cristo com os apóstolos, uma das cenas mais populares da arte sacra, em uma das paredes do salão destinado às refeições dos monges. Encontrei no livro Leonardo and The Last Supper (2012), do escritor inglês Ross King, que o artista conheceu a cena de A Última Ceia em versões pintadas em Florença, bem como na leitura dos Evangelhos Sinóticos, de Mateus, Marcos e Lucas. Ressalte-se que as representações de A Última Ceia remontam ao cristianismo primitivo, bem assim à arte bizantina, e há sinais dessa passagem bíblica, por exemplo, em mosaico na basílica de Sant’Apollinare Nuovo, do século 5º, em Ravena, e em vitral da Catedral de Chartres, do século 12.
De forma única Leonardo da Vinci transformou uma das mais marcantes cenas da vida de Cristo em uma das mais luminosas criações do espírito humano, A Última Ceia. Na ceia da Páscoa, Jesus reuniu seus 12 apóstolos para instituir a Eucaristia, e para dizer-lhes: “Em verdade vos digo que um de vós me há de trair”. A frase causou grande espanto e forte reação dos seus fiéis discípulos, e fez Judas logo deixar o recinto. Na história da arte, o mural A Última Ceia, de Da Vinci, é obra sem par no uso dos gestos das mãos e da linguagem do corpo, para transmitir as intenções da mente e as expressões da alma.
Daladier Pessoa Cunha Lima
Reitor do UNI-RN
Publicado na edição desta quinta-feira (09/01/2020) do jornal Tribuna do Norte
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