A ameaça da Poliomielite - Centro Universitário do Rio Grande do Norte - UNI-RN
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A ameaça da Poliomielite

A Organização Mundial da Saúde ainda não rebaixou a pandemia da Covid-19 à condição de endemia, em qualquer país ou região do planeta, embora essa conclusão pareça estar próxima de ocorrer. O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em recente declaração, disse que o fim da pandemia “está à vista”. Mas ressaltou, também, a necessidade de se manterem os cuidados com a vacinação.  É hora de ressaltar o valor das vacinas no controle da maioria das doenças infecciosas causadas por vírus ou bactérias. O Programa Nacional de Imunizações, do Ministério da Saúde, dispõe de cerca de 18 vacinas, usadas de acordo com calendário anual e associado ao SUS, com tanto sucesso que, ao longo de décadas, tem sido motivo de orgulho para a Saúde Pública do nosso país.  Apesar de todo esse processo vitorioso do controle das doenças infecciosas, o Brasil está sob a grave ameaça do retorno da Poliomielite, doença erradicada do país, desde 1994, conforme certificado conferido pela OMS.  Este ano, no Brasil, de cada 10 crianças, 04 não tomaram a vacina da Pólio.

A Poliomielite é uma doença de alto contágio, que afeta, principalmente, crianças abaixo de cinco anos, mas pode também ocorrer até em adultos.  O exemplo da poliomielite em adultos mais conhecido no mundo é o caso do ex-presidente dos Estados Unidos Franklin Delano Roosevelt (1882-1945), que contraiu a Pólio aos 39 anos.  Em 1943, o Presidente Roosevelt veio a Natal-RN, a fim de se encontrar com o Presidente do Brasil Getúlio Vargas. Depois desse famoso encontro, Getúlio Vargas perdeu um filho com 23 anos, 10 dias após adoecer de Poliomielite aguda. 

Por volta de 70% das pessoas infectadas não mostrarão qualquer sintoma.  Porém cerca de 25%, após alguns dias da infecção, poderão ter febre, dores no corpo, cefaleia, náuseas, vômitos ou diarreia, e, em alguns casos, um quadro de meningite viral é possível ocorrer.  Os que sobrevivem a essa fase – a grande maioria –, cerca de 5 em cada mil infectados, sofrem as paralisias ou fraqueza nos músculos dos membros da respiração, da deglutição e da fala.  Relembro as aulas magistrais da Professora Giselda Trigueiro, quando dizia que o temor da Pólio não era, primordialmente, causado pelos casos fatais, mas, com ênfase, pelas sequelas nos músculos paralisados, à mostra para chocar, por muitos anos, a sensibilidade humana.

A OMS alerta que, para erradicar uma doença infecciosa do mundo, é preciso que não exista a presença do agente etiológico em qualquer região ou país do planeta, a exemplo da varíola.  O vírus da Pólio, infelizmente persiste na Nigéria, no Paquistão e no Afeganistão.  Para o Brasil continuar livre dessa terrível doença, é preciso manter um índice de vacinação acima de 90%.  Desde 2015, esse percentual vem caindo, a ponto de atingir somente 54%, entre as crianças de 1 a 5 anos, até o marco oficial da campanha deste ano, dia 30 de setembro passado.  Será que vamos sair da Pandemia da Covid-19, graças à eficácia da vacinação, para mergulhar no passado de tristezas causadas pela Pólio, vividas há quase meio século?  Talvez o grande temor de contrair a infecção pelo coronavírus tenha levado a população a descuidar das demais vacinas, com destaque para a da Pólio, bem como a ausência, há três décadas, dessa doença no país.

Daladier Pessoa Cunha Lima

Reitor do UNI-RN

Texto publicado na Tribuna do Norte, em 28/10/2022


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