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A ceia e o Papa
11.04.2010
Há poucos dias, a mídia divulgou pesquisa realizada pelos irmãos Brian e Craig Wansink, acerca das refeições contidas nas pinturas que se inspiram na cena bíblica da última ceia. Conforme a pesquisa, publicada no The International Journal of Obesity, ao longo do tempo, houve um gradual aumento do tamanho dos pratos e da comida em cima da mesa ao redor da qual estão Jesus e seus apóstolos. Os autores estudaram, por meio de software especial, 52 peças artísticas pintadas no decorrer do último milênio, e chegaram à conclusão de que houve um incremento de mais de dois terços nos pratos e nas porções de alimento nesses quadros do “jantar mais famoso da história”. Os irmãos Wansink disseram que, se a arte imita a vida, aí está mais uma prova, pois os artistas passaram para as telas as suas vivências reais, ou seja, a crescente oferta e a maior facilidade para se adquirir os produtos da nutrição humana.
A notícia me levou a rever três pinturas dessa passagem bíblica, duas em livro e uma no original. Um dos quadros mais conhecidos do mundo, a Última Ceia criada por Leonardo Da Vinci, é obra-prima da arte sacro-cristã dos séculos XV e XVI. Jesus parece calmo e resignado, mas os apóstolos reagem, levantam-se e indagam-se, ante as palavras do Mestre: “Um de vocês me trairá”. Entre o grupo, há uma espécie de estupor, porém Judas continua quieto. Quanto à comida, se a mesa não é tão farta, também não é tão restrita. Este afresco se encontra em Milão, na Itália. Salvador Dalí deixou uma dessas telas (1955), que faz parte do acervo da National Art Gallery, em Washington (EUA). O corpo de Jesus é translúcido, e, através dele, vê-se um barco, talvez uma alusão a Pedro. Em Dali, não se nota movimento, os apóstolos estão todos de cabeça baixa e com túnicas brancas, mas um deles está vestido de amarelo. Sobre a mesa, somente dois pedaços de pão e um copo com líquido tinto à frente de Jesus. A terceira tela, no original, está em uma parede da minha casa, do artista natalense Peny. De refeição, só dois nacos de pão, embora exista um potinho para cada uma das treze figuras, o que sugere maior oferta de vinho. Creio que esta pesquisa, feita sob a chancela da Universidade Cornell (EUA), irá se desdobrar em outros estudos.
A sexta-feira santa de 2010, dia 02 de abril, teve um motivo a mais para as orações dos católicos: a lembrança do papa João Paulo II, no 5º aniversário da sua morte. Em dois mil anos, entre os 265 papas, somente quatro ficaram no pontificado por mais de um quarto de século: Leão XIII, Pio IX, o próprio São Pedro e João Paulo II. Chamado papa peregrino, João Paulo II fez mais de cem viagens ao exterior. Ao Brasil, ele veio três vezes: 1980, 1991 e 1997. Na sua segunda vinda ao país, esteve em Natal, fato que se deve creditar ao prestígio do então Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, o norte-rio-grandense Dom Eugênio de Araujo Sales. O Rio Grande do Norte tem um vínculo afetivo- religioso com João Paulo II, em virtude da beatificação dos mártires de Cunhaú e Uruaçu, ocorrida em março de 2000. Apesar de conservador em certos aspectos, como no controle da natalidade e no celibato clerical, foi também audacioso e progressista ao tentar reunir as religiões do mundo e ao pedir perdão pelos erros e crimes da Igreja ao longo da história. Deixou quatorze encíclicas, obra doutrinária e teológica que exige profunda e longa reflexão. Seu pontificado foi de extrema importância nas mudanças políticas vistas no mundo durante o período. Erudito, sábio, um completo scholar, é considerado o papa dos direitos humanos e ainda ressoa sua exortação: “Não tenham medo”. Rezei junto ao seu túmulo, que é tão discreto tal qual ele pediu, e tão simples tanto quanto ele foi na vida.
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