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No final de 2013, chegou ao Brasil um livro singular: “A história do mundo em 100 objetos”, lançado no Reino Unido três anos antes. O autor, Neil MacGregor, Diretor do British Museum, em conjunto com historiadores e integrantes da Rádio 4-BBC, fez a seleção de 100 itens do acervo do próprio Museu, para que, reunidos, pudessem contar a história da humanidade, desde os primórdios, há cerca de 2 milhões de anos, até os dias atuais. O projeto inicial resultou em 100 programas que foram levados ao ar através da Rádio 4-BBC, de alcance mundial. O grande sucesso do projeto, o qual se restringiu à narração verbal dos 100 objetos e suas imanentes expressões, capazes de compor um conjunto histórico de vários séculos da jornada humana sobre a terra, animou Neil MacGregor a transformar a narrativa em textos impressos, com ilustrações das peças, que formaram o livro de 781 páginas, de fato, uma inusitada história do mundo.
Nos conflitos humanos, quase sempre são os vitoriosos que escrevem a história, principalmente quando os vencidos foram alvo de conquistas. Nos contatos das sociedades letradas com as não letradas, os relatos escritos são somente uma parte da história, e a outra parte deve ser buscada na leitura que se faça dos objetos resgatados. O autor aborda esse tema e dá o exemplo do capítulo 89 do seu livro, o qual se refere às incursões das tropas inglesas do capitão James Cook (1728 – 1779) às terras da Austrália. Das primeiras contendas entre as tropas do capitão e os aborígenes australianos, ficaram os relatos e o diário de bordo dos ingleses sobre aqueles sangrentos dias. Porém, dos nativos, restou apenas um escudo de madeira – um dos 100 objetos do livro – deixado para trás por um homem em fuga, por causa do pânico ao ouvir um disparo de arma de fogo. MacGregor, então, conclui: “Se quisermos reconstruir o que de fato ocorreu naqueles dias, o escudo deve ser examinado e interpretado com a mesma profundidade e o mesmo rigor com que examinamos e interpretamos os relatos escritos”.
Com tantas peças sobre o Egito dos faraós – múmias, esculturas, sarcófagos e muito mais – existentes no British Museum, Neil MacGregor escolheu um pequeno objeto capaz de contar parte da história daquele tempo de grande poder e glórias de um povo, às margens do rio Nilo. Trata-se de uma placa feita de marfim de hipopótamo, com 5 cm², tida como a etiqueta de identificação do rei Den (2975 a.C. – 2935 a.C.), da Dinastia I do Antigo Egito. Por serem os faraós vistos como deuses por seus súditos, é provável que essa placa, presa ao corpo do rei em sua jornada para a outra vida, tivesse a missão de identificá-lo na corte do além.
Em uma das faces da placa de marfim há um entalhe com a forma de sandálias, vistas como símbolo de status e de poder, pois não eram sapatos comuns. Na outra face, o faraó Den tem a cabeça coberta por um adorno real, segura um cetro com uma das mãos e um chicote com a outra. O rei está em meio a um combate e golpeia um inimigo a seus pés. Em hieróglifo, está escrito: “Primeira vez que se abate o leste”. O rei Den travou muitas batalhas, expandiu o poder do Alto e do Baixo Egito, e plantou a semente do esplendor dessa notável civilização. Pois é, objetos – mesmo os bem pequenos – podem resgatar o passado, até os mais remotos.
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