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A Igreja cristã já nasceu com os desígnios de se voltar para a saúde do ser humano. Jesus, conforme os Evangelhos, reabilitou diversos enfermos, cegos, paralíticos, leprosos e outros. As palavras e ações de Jesus iam além da cura das doenças, pois envolviam mensagem de fé, de esperança e de caridade. O pensamento cristão afasta a ideia da doença que decorre de castigo por um pecado, mas como processo natural do viver. Desde o início, portanto, o cristianismo teve a propensão de se vincular à missão de zelar pela saúde das pessoas e de assistir aos que sofrem agruras das doenças. Os primeiros grandes hospitais nasceram sob a égide do Cristianismo e, na Idade Média, por séculos, mosteiros e monastérios se encheram de leitos e de doentes, sob os cuidados de monges e de freiras. Muitos Santos foram levados à glória dos altares por terem suas vidas dedicadas aos enfermos, haja vista os dois exemplos a seguir.
São Camilo de Lélis (1550-1614), italiano, começou a frequentar hospitais e serviços de saúde na ânsia de se tratar de úlcera em uma das pernas. Vendo de perto o sofrimento dos que iam em busca de amparo, encheu-se de compaixão e decidiu voltar-se por inteiro para as pessoas doentes. Criou uma ordem com essa proposta e o seu nome perdura como um exemplo a ser olhado por todos os que optam pelas profissões da área da saúde. Entre os médicos santos, brilha a figura de São Lucas, padroeiro da medicina e um dos quatro Evangelistas, amigo e seguidor de São Paulo. Segundo Ricardo de Saint-Victor, citado na Legenda Áurea, São Lucas é ícone por cumprir os quatros deveres com o próximo: o poder, ajudando-o; o saber, aconselhando-o; o querer, desejando-lhe boas coisas; e as ações, prestando-lhe bons serviços. Lucas viveu no século I e consta ter nascido na Síria e se formado médico em Alexandria. Não conheceu Jesus em pessoa, e escreveu seu Evangelho com base nos testemunhos dos Apóstolos e dos discípulos presentes na jornada terrena do Salvador. Santo Agostinho diz que o Senhor quis ter duas testemunhas que tivessem visto – Mateus e João – e duas que tivessem ouvido – Marcos e Lucas. Com linguagem bonita e elegante, pleno de clareza e ardor para difundir a palavra de Cristo, o Evangelho de São Lucas é pródigo em termos médicos, dispersos ao longo dos textos.
A Igreja Católica lançou a Campanha da Fraternidade 2012 e adotou o lema "Que a saúde se difunda sobre a terra", com o tema "Fraternidade e Saúde Pública". Recebi do Professor Aluísio Alberto Dantas o ótimo documento da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – com o título de Texto-Base da Campanha da Fraternidade 2012. A parábola do Bom Samaritano, bonita passagem das Escrituras Sagradas, constitui-se em premissa de reflexão da C. F. – 2012, ao focar na solidariedade e no amor ao próximo. Um sacerdote e um levita passaram ao largo de um pobre homem caído em uma estrada, após ser espancado e quase morto por ladrões. Mas um samaritano, que por ali também passava, sentiu compaixão e socorreu o desconhecido, levando-o para lugar seguro. E Jesus, então, perguntou ao mestre da Lei, com quem conversava: "Na sua opinião qual desses três foi o próximo do homem assaltado? "Aquele que o socorreu!"– respondeu o mestre da Lei. E Jesus disse: "Pois vá e faça a mesma coisa". A Campanha da Fraternidade deste ano conclama por mais atenção à saúde pública no Brasil e exorta para que surjam mais samaritanos na própria sociedade, no âmbito particular e na esfera dos governos. Afora isso, o texto da CNBB lembra que o conceito de saúde mudou de "caridade" para "direito", e conclui: "É mais do que hora de garantir a todos os brasileiros o acesso universal, integral e equânime aos cuidados necessários de saúde". A C. F. – 2012 chegou no momento certo.
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