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No começo do século XIX, principalmente na Inglaterra, houve uma revolta das classes operárias contra a ameaça aos seus empregos, devido ao uso de máquinas que tornavam a produção da indústria menos dependente do trabalho pessoal. Muitos operários, alarmados com a chance de perderem seus empregos e de se verem envoltos em pobreza extrema, voltaram-se para decisões radicais, ao ponto de atacarem as próprias máquinas, no intuito de destruí-las. A reação dos patrões e do governo também foi radical, e quem mais sofreu – como quase sempre ocorre – foram os operários. Criou-se uma figura fictícia, Ned Ludd, como símbolo do movimento – luddismo –, a favor da classe trabalhadora, a qual passou também a lembrar a imagem de “o quebrador de máquinas”, ou aquele que é opositor ao progresso tecnológico.
Dois séculos depois, o natural desenvolvimento da ciência e da pesquisa, com a crescente repercussão na automação das diversas áreas do setor produtivo, com a robótica cada vez mais presente e a inteligência artificial em rápida expansão, repete-se o temor da época do luddismo, desta feita de forma mais difusa e muito mais ampla. É fácil de se notar, no dia a dia, muitos exemplos de tipos de trabalho pessoal que se tornam obsoletos, ou em processo veloz de extinção. Este fato é mais nítido em países de padrão tecnológico mais avançado, nos quais a automação de tarefas chega a surpreender. Em janeiro passado, a Amazon inaugurou uma loja, na cidade de Seatle, que é um exemplo típico desse mundo físico/virtual em que vivemos. A loja da Amazon tem um espaço físico, mas todo o processo de compras é feito por meio virtual, com uso de um aplicativo próprio. Não há caixa nem fila, não existe um só funcionário, tudo ocorre de forma rápida e eficaz. No entanto, a Amazon tem recebido críticas por substituir pessoas por máquinas e sistemas eletrônicos. Contudo, apesar das questões sociais geradas, esse processo não tem reversão.
Há poucos dias, li ótimo texto escrito pela escritora e professora Cláudia Costin, sobre a automação de certas atividades e a extinção de postos de trabalho. Nesse artigo, Cláudia Costin cita uma pesquisa realizada na Universidade de Oxford, pelos pesquisadores Carl Frey e Michael Osborne, a qual confirma que, até 2030, cerca de 2 bilhões de empregos serão extintos. Os autores concluem sobre a premência de cada país repensar seu sistema de ensino, no sentido de dirigir seus objetivos para a formação de profissionais capazes de atender às demandas modernas da sociedade.
No caso do Brasil, a situação é mais complexa, pois as mudanças precisam ocorrer desde o ensino básico, devido à baixa competência cognitiva essencial, como letramento, interpretação de textos e raciocínio matemático elementar. As universidades, mesmo diante dessas fragilidades do ensino básico, têm de arcar com a responsabilidade final de darem respostas eficazes às demandas desse novo mundo do trabalho. Se não se prepararem para essa realidade atual, elas poderão perder seu protagonismo na formação de profissionais aptos diante da inovação e da automação crescentes. É preciso também ressaltar a ênfase não somente à boa e correta formação sob o ponto de vista técnico e cognitivo, porém, e sobretudo, no campo das habilidades e competências socioemocionais, condição relevante para o atual mercado de trabalho.
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