Apesar dos pesares - Centro Universitário do Rio Grande do Norte - UNI-RN
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Apesar dos pesares


Esta não é a primeira e não será a última vez que o mundo se assusta com doenças de fácil e rápida disseminação, causadas por vírus ou bactérias.  É só relembrar, no passado mais remoto, da peste bubônica e da varíola, e, no tempo mais próximo, da pólio e da gripe espanhola. A gripe espanhola de 1918/1920, causada pelo vírus influenza subtipo H1N1, foi um evento terrível, pois, conforme alguns dados, alcançou 100 milhões de mortes no planeta.  No Brasil, fala-se em 35 mil mortes, mas esse número deve ser bem maior.  Note-se que já se passaram 100 anos, desde a eclosão dessa catástrofe na saúde do mundo, um século em que houve uma evolução científica inimaginável, em prol da saúde humana.  Essas doenças de alta contagiosidade não desistem, e podem atingir igualmente todas as pessoas, haja vista o recente episódio que exigiu cuidados especiais das Presidências do Brasil e dos Estados Unidos.  A gripe espanhola de 1918 vitimou o próprio Presidente do Brasil Francisco Rodrigues Alves, em 16 de janeiro de 1919, antes da sua posse para um segundo mandato.  Durante seu primeiro mandato, houve a famosa Revolta da Vacina, no Rio de Janeiro, e foi comprada da Bolívia a área do atual estado do Acre.

Por que a virose causada pelo vírus influenza H1N1, de 1918/1920, chamou-se gripe espanhola?  No conflito global – Primeira Guerra Mundial – que envolveu vários países e que perdurou de 1914 a 1918, a Espanha manteve-se neutra.  Dessa forma, o país estava livre para divulgar, sem censuras, os informes sobre a gripe que trouxe tantas desditas para a humanidade, pelo elevadíssimo número de pessoas que perderam as vidas.  Por esse motivo, ou seja, por tentar fazer o bem e de maneira insólita, a Espanha teve seu nome vinculado a um dos mais tristes flagelos da memória médica mundial. 

No Brasil, onde fatos marcantes costumam despertar o bom humor popular, as lembranças da gripe espanhola foram, alguns anos depois, trazidas  à tona na voz de Carmen Miranda (1909-1955), com a música de Assis Valente, “E o mundo não se acabou”, um resgate do carnaval de 1919, quando houve excesso de euforia e certa liberação dos costumes, para a época.  Eis a música cantada por Carmen Miranda:  “Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar/ Por causa disso a gente lá de casa começou a rezar ... acreditei nessa conversa mole/ Pensei que o mundo ia se acabar/ E fui tratando de me despedir/ E sem demora fui tratando de aproveitar/ Beijei na boca de quem não devia/ Peguei na mão de quem não conhecia/ Dancei um samba em traje de maiô/ E o tal mundo não se acabou ... Ih! Vai ter barulho e vai ter confusão/ Porque o mundo não se acabou”.

Nessa atual pandemia, todos sabem que as pessoas idosas pertencem a um grupo de risco, portanto, devem redobrar os cuidados de prevenção.  No mais, é a população seguir com rigor a orientação dos órgãos públicos de saúde, no intuito de atravessar mais uma doença causada pelas menores estruturas vivas, os temidos vírus, no caso, o SARS-Cov-2.  Esses “bichinhos” só se multiplicam dentro de células, e, normalmente, os coronavírus são rejeitados pelas células humanas.  Porém, são sabidos, quer dizer, mutantes, e conseguem vencer a rejeição.  O homem, no entanto, saberá derrotá-los, apesar dos pesares. 

Daladier Pessoa Cunha Lima 

Reitor do UNI-RN 

Publicado na edição desta quinta-feira, 19/03/2020, do jornal Tribuna do Norte.

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