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As universidades, vistas como organizações voltadas para a criação e a difusão do saber, têm um marco de origem no mundo ocidental, que é a Universidade de Bolonha, na Itália. Em setembro de 1988, aquela vetusta Instituição celebrou os 900 anos de existência, com uma festa acadêmica memorável, a qual, ainda hoje, renova-se a cada ano, como uma homenagem à própria academia, no âmbito mundial. À época, exercia o cargo de reitor da UFRN, e tive a honra de receber convite da Universidade de Bolonha para participar da grande celebração, pois a UFRN estava entre as oito universidades brasileiras convidadas. Estar presente naquele histórico encontro universitário foi um destaque para a UFRN, bem como foi uma feliz oportunidade para o seu reitor, pelo valor da efeméride, pelos assuntos expostos e discutidos, pela presença das universidades de todos os continentes – representadas pelos seus reitores – , além da grandiosidade das comemorações.
Precedendo o auge das solenidades, ocorreu um seminário sob o tema "Universidade no Mundo Contemporâneo", durante cinco dias, quando reitores, professores, expoentes da pesquisa e da cultura, pensadores de todo o mundo abordaram temas de interesse global, uma reflexão sobre o passado, o presente e o futuro da humanidade. O ponto alto das celebrações, no entanto, foi a assinatura pelos reitores, em nome de universidades de todos os continentes, da Magna Charta Universitatum, em 18 de setembro de 1988, documento perene que aproxima e até unifica a instituição universitária mundial, pela universalidade dos princípios que proclama.
O cenário em que ocorreu a assinatura da Magna Charta guardava algo de monumental. Os reitores, com suas diversas vestes talares, ficaram concentrados no Arquiginásio, o prédio mais antigo da U. de Bolonha, que abriga, entre outras preciosidades, o anfiteatro de anatomia humana, datado de 1638. Começou, então, o desfile dos reitores e autoridades por ruas medievais de Bolonha, até a Piazza Margiore, centro da cidade, preparada para o evento. Esse centro histórico ostenta edifícios com séculos de vida, com a arquitetura típica de arcos múltiplos, além da Igreja de São Petrônio, do século XIII. A Orquestra do Teatro Comunal de Bolonha executou peças de Verdi, no meio de poucos discursos, entre os quais o do reitor anfitrião e o do Presidente da Itália. Vale lembrar que Verdi fora o diretor do comitê musical durante as celebrações do 8º centenário daquela universidade.De acordo com o continente de origem, os 388 reitores presentes passaram a assinar a Magna Charta Universitatum, uma espécie de constituição das universidades do mundo.Não cabe aqui repetir o teor dessa magna carta; apenas resumo ao dizer que se trata de princípios fundamentais da instituição universitária na sua dimensão universal.
Desde 1988, no mês de setembro de cada ano, realiza-se um seminário, sob o prestígio da Universidade de Bolonha, para celebrar e renovar aquele momento único e balizador da união do espírito acadêmico mundial. Nessas conferências anuais, que contam com personalidades da cultura e da ciência no âmbito global – em 2015, o atual reitor da USP, médico Marco Antonio Zago, foi um dos conferencistas –, novas assinaturas podem se juntar às primevas, a fim de referendar os preclaros valores contidos na Magna Charta Universitatum.
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