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Uma das maiores escritoras brasileiras, Nélida Piñon, que faleceu há poucos dias, sempre exaltava a Ibero-América, quanto à sua individualidade e quanto à nobreza dos povos que a constituem. Em seu livro Aprendiz de Homero (2008), ela assim escreve: “Nossas irradiações são latinas e ibéricas. Integram o nosso ser e o mistério que o cerca. Somos múltiplos, dispersos, mestiços. Para nossa sorte, fomos visigodos, iberos, celtas, gregos, romanos, árabes, antes de sermos ibero-americanos”. Com um estilo culto e sedutor, Nélida Piñon, em todo o livro Aprendiz de Homero, compõe uma brilhante aula de literatura, e, ao mesmo tempo, revela sua vinculação e seu amor à cultura ibérica. Nélida nasceu no Rio de Janeiro, em 1937, e, aos 10 anos, viveu algum tempo na Galícia, terra de suas origens, quando estudou o galego numa escolinha rural.
Nélida Piñon lançou seu primeiro livro em 1961, com “Guia-Mapa de Gabriel Arcanjo”, sobre o qual recebeu severas críticas, mas continuou seguindo em frente com muita coragem e tenacidade: “As coisas têm o seu tempo”. Dois anos depois, lançou seu segundo livro, “Madeira Feita Cruz”, com muito melhor aceitação da crítica. Nas décadas de 1960/1970, fortaleceu-se a amizade entre Nélida e Clarice Lispector, constante até nos momentos finais da vida da autora de A Hora da Estrela. O norte-rio-grandense João Almino, integrante da ABL, em brilhante ensaio sobre a obra de Nélida Piñon, publicado na Folha, cita cinco vezes o nome de Clarice Lispector, no tocante à intercessão cultural entre essas duas figuras femininas que engrandecem a literatura brasileira. E diz João Almino: “Se considerarmos a história, feita de disjunções, de nossas literaturas, brasileira e latino-americana, desconheço outros autores dos quais poderíamos dizer o mesmo: que sua síntese literária abarca o Brasil e a América Latina”. Foi contemporânea e amiga de Vargas Llosa, Otávio Paz e Garcia Márquez. Escreveu cerca de 25 livros, a maioria romances, entre os quais “A República dos Sonhos”, sua principal obra.
Nélida Piñon foi a primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras, em 1997. Talvez seja o autor brasileiro mais premiado no próprio país e no exterior. No Brasil, destaco dois Jabuti e, no exterior, o Princesa das Asturias, um dos maiores prêmios literários da Espanha. Reuniu os discursos de agradecimentos aos prêmios, com outros de diversas naturezas, tais como o de Doutor Honoris Causa das Universidades de Poitiers, da França, e a de Santiago de Compostela, da Espanha, para compor o erudito livro O Presumível Coração da América.
Sem filhos, resta-me comentar um pouco sobre o imenso amor maternal (?) que ela dedicou aos cãezinhos criados em casa. As atuais, Suzy Piñon e Pilara Piñon visitaram-na no hospital, em Portugal, onde Nélida Piñon faleceu. A escritora deixou-as como herdeiras, enquanto viverem, de 04 apartamentos, no Rio de Janeiro. Mas seu maior amor foi por Gravetinho Piñon, o cãozinho que morou com Nélida 11 anos. Suas cinzas serão sepultadas ao lado das cinzas da escritora, no Mausoléu da ABL. Na crônica Gravetinho Amado, do livro Uma Furtiva Lágrima, Nélida Piñon abre o coração e declara: “Ele importava mais que as glórias literárias. (...) Amo você, meu Gravetinho Piñon. Adeus meu bichinho amado”.
Daladier Pessoa Cunha Lima
Reitor do UNI-RN
Texto publicado na Tribuna do Norte, em 05/01/2023
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