Carta ao Beato João Paulo II - Centro Universitário do Rio Grande do Norte - UNI-RN
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Carta ao Beato João Paulo II
28.04.2011

Nesta carta, tratar-vos-ei de forma meio protocolar, mas cogitei sobre o uso do pronome “você”, a fim de ficar mais próximo do vosso estilo de vida terrena, sempre com a humildade dos santos e a grandeza dos simples. Essa simplicidade, própria das almas eleitas, deve estar convosco no lugar onde estais, e, assim, quiçá discordeis da presteza com que o Vaticano decidiu pela vossa beatificação. Mas, percebei, as virtudes que fizeram a Igreja vos elevar ao patamar dos bem-aventurados têm o aplauso unânime do mundo católico, e até por parte de pessoas não alinhadas com essa religião. Exulto em dizer da nossa alegria de viventes por podermos assistir, mesmo a distância, às cerimônias do próximo dia primeiro de maio, sob a presidência do papa Bento XVI; com emoção e com fé quanto a vossa dimensão celestial, só alcançada pelos que souberam seguir, na condição de criaturas de Deus, as pegadas e os exemplos de Jesus. Aqui na terra, vosso carisma, formado por atos de humanismo e da gratuidade do amor, da cultura teológica e da prática ecumênica, vos guiou pelos caminhos da Igreja, para difundir a paz e para exaltar os princípios cristãos. Fostes capaz de conciliar oponentes, de redimir equívocos, de aplacar a fúria, de incitar a solidariedade e a compaixão, de perdoar e de suplicar o perdão. Olhastes para os oprimidos, para os que tinham fome e sede de justiça, para os que choravam, e, agora, vossas bem-aventuranças são fontes de confiança para todos eles. Nós, brasileiros, lembramo-nos das três visitas que nos fizestes. Como esquecer aqueles gestos simbólicos de beijar o solo dos muitos países visitados? Foram tantas viagens para pregar o Evangelho, a ponto de vos ser dada a alcunha de Papa Peregrino. Enfrentastes canseiras, doenças, algumas rejeições, perigos, ameaças, mas nada conseguiu deter vossa determinação de difundir a palavra de Cristo. Na segunda visita ao Brasil, em 1981, estivestes em Natal, beijastes o chão natalense e celebrastes a missa de encerramento do XII Congresso Eucarístico Nacional. Esta cidade tem mais esse eterno preito de gratidão a vossa bondade, bem assim ao Cardeal Dom Eugenio Sales, artífice dessa visita. Não esqueço os acenos à multidão que vos aplaudia nas ruas de Natal. Lembrai-vos do Papódromo, local erguido em vossa honra, próximo ao estádio de futebol? Agora, querem implodir tudo, para construir no lugar uma pomposa arena dos esportes, a fim de garantir Natal como uma das sedes da próxima Copa do Mundo. Imploro-vos interceder, para que vença a melhor opção para o povo norte-rio-grandense. Aliás, esse povo guarda convosco outro vínculo afetivo/religioso, por causa da beatificação dos mártires de Cunhaú e Uruaçu. Permiti a relembrança do vosso tempo de menino em Wadowice, pequena cidade da Polônia, onde nascestes e vivestes até os dezoito anos. Se vivo fostes, estaríeis a completar 91 anos em 18 de maio próximo, mas fizestes a viagem final seis anos atrás. Lolek era vosso apelido na escola pública de Wadowice. Sabemos da infância calma naquela pacata cidade, porém, dois fatos tristes marcaram esse período da vossa vida: perdestes a mãe quando tínheis nove anos, e o irmão Edmund, já formado médico, quando completastes doze anos. Puxei essas lembranças de tristezas para vos pedir força para as famílias das crianças vítimas do tresloucado episódio na escola do Realengo, no Rio de Janeiro. Face a brutalidade do massacre, como evitar as dúvidas sobre a essência divina? Nesta hora, seria melhor guardar o silêncio Wittgensteiniano? Relembrar a vossa vida é forma de reafirmar a crença em Jesus e de ressaltar a fé em Deus. É possível que a vossa luz em palavras seja: “Deus transcende a nossa razão”. Despeço-me sob o manto da paz, na certeza de que a teologia não tem resposta para tudo. Permiti-me transmitir-vos a pergunta feita pela psicanalista Anna V. Mautner, sobre o matador do Rio: “Perdoemo-lo, ele não sabia o que fazia?”


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