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No encontro de Câmara Cascudo com Nicolau Maquiavel, houve interessante diálogo entre os dois. Como explicar tal desatino? Ora, Câmara Cascudo nasceu em 1898 e faleceu em 1986, dedicou-se ao estudo da cultura popular brasileira, sendo exaltado na condição de professor, etnógrafo, antropólogo, biógrafo, historiador e escritor; Nicolau Maquiavel nasceu em 1469 e faleceu em 1527, dedicou-se ao estudo da política e da natureza humana, com foco na ambição e no poder. Sua terra natal é Florença, na Itália, mas desenvolveu missões em outros países europeus. Dessa forma, diante de tempo e de espaço tão díspares, como atinar para esse fantástico encontro? Bom, pode-se pensar em evento espiritual, dentro da lógica dos adeptos de Allan Kardec, mas não se trata de algo nesse campo. Na verdade, o relato desse encontro foi feito pelo próprio Câmara Cascudo, e consta no seu livro “Prelúdio e fuga do real”, cuja primeira edição é de 1974.
É por demais sabido que a obra de Câmara Cascudo, voltada com ênfase para a cultura popular, para o folclore e para a antropologia cultural, fruto de intensa pesquisa etnográfica e de profundos estudos, é também permeada por evidente erudição. Numa época sem o suporte dos atuais avanços tecnológicos, ele foi capaz de produzir o conjunto de uma obra única, definitiva e tão extensa, fascinante pela riqueza de conhecimentos e de saberes regionais e universais, bem como pelo uso constante de uma linguagem literária. Em texto publicado no livro “Cascudo: guardião das nossas tradições”, organização da professora Isaura Amélia Rosado Maia, o ilustre escritor Tarcísio Gurgel cita a obra “Prelúdio e fuga do real”, quando comenta o perfil intelectual de Cascudo, no qual não se separam a cultura popular e a cultura erudita.
Nesse livro de ficção, o professor, que é o narrador e alter-ego de Câmara Cascudo, tem encontros e conversas com autores ou personagens famosos e muito conhecidos na história humana e na literatura mundial. Para citar somente alguns desses autores e personagens com quem o Professor, ou seja, Câmara Cascudo se encontrou e manteve uma conversa: Nicolau Maquiavel, Dom Quixote de la Mancha, Jean-Jacques Rousseau, Ramsés II, Erasmo de Roterdã, Nostradamus, Imperador Juliano, um Centauro, e muito mais. Tarcísio Gurgel diz que a leitura desses fantasiosos encontros são aulas de erudição e um maravilhoso exercício lúdico.
No tocante a Maquiavel, o autor relata que o professor – alter-ego de Cascudo – encontrou, na Praça Augusto Severo, um “homem robusto, cabeça de abóbora lilás, testa ampla, grisalho, nariz longo, sorriso irônico e triste. Saúda-me, diz meu nome e que ía para a nossa casa. Viemos juntos, silenciosos. Subindo a escada, apresenta-se: Niccolò Machiavelli!” Surpreso e como boas-vindas, o professor faz alusão à obra O Príncipe, escrito nos primeiros anos do século XVI. A palavra volta para Maquiavel: “(...) Quem ignora maquiavelismo? Sou sinônimo de criatura acima do bem e do mal, coração de bronze, mão de ferro, língua de prata. Aconselhei crimes, preguei o cinismo, sugeri felonias, doutrinei maldades. Não tive pudor, ternura, piedade, alegria.” E seguem precisos e deliciosos conceitos sobre Maquiavel e sua obra. Ao final, o homem de Florença diz – Addio, professore, seguindo-se a resposta: Arrivederci, Messer Machiavelli!...
Daladier Pessoa Cunha Lima
Reitor do UNI-RN
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