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Cinco anos após a morte de Mania, aos 42 anos, ocorrida em 1930, Pedro Lispector, com as filhas Elisa, Tânia e Clarice chegaram ao porto do Rio de Janeiro, vindos do Recife. Foram em busca de dias melhores, pois o Rio era, à época, a capital federal. A visão da baía da Guanabara logo fascinou a jovem Clarice, bem como a arquitetura da cidade, a começar pelo edifício A Noite, na praça Mauá, o primeiro arranha-céu da América Latina. Nesse edifício, localizava-se o jornal A Noite, porta de entrada para o trabalho da repórter C.L., e, na gráfica desse diário, foi impresso o primeiro romance da escritora, “Perto do coração selvagem”, cujo título foi uma sugestão do famoso escritor Lúcio Cardoso, por quem a escritora nutriu grande paixão. Porém, questão íntima de Lúcio impediu que os dois formassem um casal pela vida afora.
No Rio, a adolescente Clarice, além de frequentar a escola e viver o tempo do encantamento próprio da idade, passou a ministrar aulas particulares para outros alunos, no intuito de colaborar com as despesas da família. Ao mesmo tempo, fazia constantes visitas a uma biblioteca de aluguel que existiu na rua Rodrigues Alves, no centro da cidade, a ponto de fazê-la mergulhar no reino da literatura, mesmo sem receber qualquer orientação, pois ainda não conhecera Lúcio Cardoso. No meio de tantos livros, de autores nacionais e estrangeiros, foi atraída por um título, “O lobo da estepe”, de Hermann Hesse. Foi uma semente boa que fez germinar na mente da futura grande escritora o destemor para se aventurar nos caminhos da literatura. Com o novo ânimo e após outras leituras, Clarice resolveu concluir e publicar seu primeiro conto, e procurou a revista “Vamos ler”, na praça Mauá, e, ao se deparar com o diretor, escritor Raimundo Magalhães Júnior, disse: “É para ver se o senhor publica.” O diretor leu e perguntou: “Você copiou isso de alguém”? Clarice disse que não, e o conto foi publicado.
Em 1939, Clarice ingressou na Faculdade de Direito da Universidade do Brasil, onde conheceu o colega de curso Maury Gurgel Valente. Os dois se aproximam e surge o natural namoro. Maury lograra aprovação em concurso do Itamaraty, sendo logo nomeado cônsul de terceira classe. Clarice Lispector e Maury Gurgel Valente, em 1943, casaram-se e foram morar em Belém-PA, e, logo depois, no exterior. Após 15 anos de vida em comum, o casal se separou, e Clarice voltou a morar no Rio de Janeiro, agora com dois filhos, Pedro e Paulo.
Da mesma forma que Clarice nunca deixou a literatura, a paixão por Lúcio Cardoso foi uma constante, almas gêmeas que muito se amaram. Durante um bom tempo, Lúcio foi mentor intelectual de Clarice, e amigo sincero em todos os momentos da vida. Em crônica, após a morte de Lúcio, escreveu Clarice: “Lúcio e eu sempre nos admitimos. Ele me dissera das coisas mais inspiradas que ouvidos humanos poderiam ouvir”.
Daladier Pessoa Cunha Lima
Reitor do UNI-RN
Artigo publicado na edição desta quinta-feira, 03/02/2022, do jornal Tribuna do Norte
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