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Código da Vida
28.02.2008
Código da Vida, do jurista Saulo Ramos, é um livro auto-biográfico original. O autor escolheu um caso da sua lide advocatícia e transformou em história cheia de suspenses, a qual permeia todo o texto. Da mesma forma, sem guardar ordem do tempo, sua vida se revela e entremeia-se com fatos marcantes da realidade brasileira das últimas cinco décadas. São focalizadas algumas grandes causas as quais mostram a firmeza e a paixão do advogado diante dos desafios, movido pelo desejo de “... salvar liberdades, honras, patrimônios de toda a espécie, materiais e morais. Poder ajudar na cura de feridas abertas na alma dos injustiçados, pobres e ricos”. A falta de seqüência cronológica, em vez de ser um óbice, torna a leitura mais atrativa. Aliás, nada é monótono; tudo é instigante. O texto prende o leitor e induz à vontade de se continuar a ler, até a última página, de número 467. Ao final, vem a certeza de que o livro entrará no rol das releituras.
Código da Vida não tem prefácio e o autor diz o motivo. Evitou comprometer o prefaciador, pois faz severas críticas a várias figuras importantes do país. Ele assim explica: “Nas minhas narrativas faço críticas amargas a ministros do Supremo Tribunal. (...) Censuro severamente políticos, suas mazelas e mediocridades, e as tentativas de golpe na Constituinte. Denuncio os agentes da ditadura que cruzaram meu caminho. Qualquer amigo que prefaciasse este livro poderia ser considerado pelos criticados como avalista das chibatadas desferidas contra essa gente”.
Na primeira página do livro, está o retrato do autor pintado por Cândido Portinari, com data de 1953. Eram amigos e conterrâneos, pois ambos nasceram em Brodowsky, cidadezinha do interior paulista. Saulo Ramos conta que sua primeira profissão foi de caminhoneiro, porquanto fazia a ligação das fazendas do pai em Cravinhos (SP) e no Paraná, dirigindo um caminhão F-5. Quando era estudante em São Paulo, dividia o quarto de pensão com outro hóspede, que tinha o mesmo tamanho dos pés e, assim, podiam dividir também um par de sapatos novos. O companheiro de quarto chama-se Edevaldo Alves da Silva, hoje dono do Uni-FMU, uma grande instituição de ensino superior paulistana.
São muitos episódios dramáticos e muitos casos surpreendentes narrados por Saulo Ramos, memórias de um advogado de famosas causas. Só para citar algumas: “hábeas corpus” em favor do governador da Paraíba, Ronaldo Cunha Lima, submetido à prisão ilegal; defesa do Senado no “impeachment” do Presidente Collor; caso internacional envolvendo o cantor Roberto Carlos; as injustiças sofridas pela Panair do Brasil e por Mário Henrique Simonsen; a ação contra a União movida pela viúva e pelos filhos menores de Vladimir Herzog, entre tantas outras. O escritor não usa meios-termos nem fica em cima do muro. Com esse estilo, algumas figuras recebem elogios, ao contrário de outras. No meio dos enaltecidos, estão José Sarney, Mário Covas, Jânio Quadros, Vicente Ráo, Abreu Sodré e Roseana Sarney. Na lista dos criticados, estão Fernando H. Cardoso, Luís I. Lula da Silva, Bernardo Cabral e Celso Melo. Saulo Ramos exerceu as funções de Consultor Geral da República e de Ministro da Justiça, mas afirma que a advocacia foi o máximo em sua vida. Com uma narrativa plena de dotes literários, com uma linguagem forte, direta e incisiva, a obra passa a figurar entre as melhores biografias do Brasil. Embora polêmico, Código da Vida, de Saulo Ramos, é ótimo livro, escrito com maestria e cheio de incríveis revelações.
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