Conversas com taxistas - Centro Universitário do Rio Grande do Norte - UNI-RN
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Conversas com taxistas
03.04.2014

Tenho o costume de puxar conversa com taxistas, quando estou em viagem, pois em Natal poucas vezes uso serviços de taxi. Em dias recentes, passei duas semanas em São Paulo, cuidando de problemas ligados à minha saúde, quando preferi me servir desse meio de transporte. Gosto de usar o transporte coletivo, em cidades que visito – principalmente no exterior –, mas desta vez tive receio de não chegar logo ao destino certo. São Paulo tem uma frota de taxi muito boa e as tarifas não são tão altas assim. Outra vantagem é a confiança que se pode ter na maioria dos motoristas, os quais estão dispostos, quase sempre, a um diálogo rápido durante o percurso.

A primeira das três conversas que irão compor esta crônica foi com o dono de um taxi que faz ponto no Hospital São José. Era um carro grande e bom, e o motorista um nordestino bastante conversador. Aliás, foi mais um monólogo, pois o taxista era um tagarela de marca maior. Ao saber de onde éramos – estava com minha mulher e uma filha –, contou que serviu às forças armadas em Natal, na Base Naval Ary Parreiras, e até hoje tem na mente as bonitas namoradas que arranjou na rua Amaro Barreto. E repetia: “Também sou filho de Deus, né verdade, né verdade?” Lembrava-se das eleições em que Aluizio Alves foi eleito governador, e citou um genro de Dinarte Mariz, valente e grande orador. Tem mais dois irmãos que moram em São Paulo, e, aos fins de semana, toda a família se reúne na casa de um dos três para bebericar e jogar sueca. Não se esquece da sua terra natal, Cuité na Paraíba, cidade que visita todos os anos, para matar a saudade. Com a mulher, os filhos e os netos, vive feliz em São Paulo. Em mais de 40 anos na profissão de taxista, nunca sofreu qualquer assalto, e diz confiar na sua tropa de choque visível no painel: Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora de Fátima e São José. Foi mesmo melhor para ele ter deixado a tranquila Cuité pelo agito de São Paulo?

Na lateral de um taxi, estava escrito: veículo híbrido. Ao entrar no carro, notei logo um painel diferente, cheio de sinais próprios de sistema eletrônico. Perguntei ao taxista o significado das duas palavras externas. Tratava-se de carro elétrico e a gasolina, da Toyota, fabricado no Japão, movido por bateria e por motor a gasolina. O motorista mostrou os sinais do painel que indicavam as duas fases: até os 60 km/h, o carro se move pela bateria, e, a partir desta marca, ou ao subir ladeiras, entra o motor a gasolina, o qual gera carga para bateria. O taxista não se fez de rogado para explicar essa versão de veículo que está sendo testado em um projeto piloto da Prefeitura de São Paulo. Podemos pensar em um mundo menos poluído para um futuro próximo?

Taxista mulher não é novidade, mas essa tem algo de especial. Refiro-me a Socorro, uma senhora nascida no Maranhão, paulistana por adoção, nos seus 60 anos de idade. Bem maquiada, bem vestida, elegante, ela dirige um taxi que difere dos usuais, com bancos de cores vivas e brilhantes, interior perfumado, música boa e suave, tudo para o conforto dos clientes. Socorro disse que trabalha até as 22 horas, mas, às sextas e aos sábados, passa a noite no batente, ou melhor, na direção. Porém explica: atende nessas noites aos clientes que frequentam um restaurante famoso da cidade. Ao encerrar a corrida, veio à mente a pergunta: até quando essa mulher estará em paz?

Eis aqui ínfima parcela do cenário humano de uma das maiores cidades do mundo. Os taxistas de lá gostam de falar de política, mas evitei tal assunto; preferi uma conversa amena, sem despertar mais estresse, a fim de preservar o bem-estar a que todos têm o direito.


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