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D. Pedro II
08.11.2007
Um rei português se viu ameaçado por um déspota francês e, para preservar o reinado, içou as velas dos seus navios em direção aos trópicos, para uma terra descoberta e colonizada por Portugal, havia cerca de 300 anos. Era a tábua de salvação encontrada por D. João VI, para escapar das ambições imperialistas de Napoleão Bonaparte, à frente das tropas mais temidas do mundo. Dessa forma, a família real portuguesa chegava ao Rio de Janeiro, em março de 1808.
Essa viagem mudaria por completo a história deste país tropical do Novo Mundo. Um príncipe, então com nove anos, era um dos passageiros dos navios e seria, pouco tempo depois, o personagem principal da Independência, quando passou a se chamar D. Pedro I, Imperador do Brasil. Antes, a corte portuguesa arranjara o casamento do príncipe Pedro com a arquiduquesa Leopoldina, filha de Francisco I da Áustria e sobrinha-neta de Maria Antonieta, rainha da França e mulher do rei Luís XVI, ambos guilhotinados no bojo da Revolução Francesa. A Casa de Bragança (Portugal) se unia à Casa dos Habsburgos (Áustria), por interesse político. Desse tumultuado casamento, ocorrido em 1918, nasceram sete filhos. Em carta dirigida ao pai, datada de 17/12/1825, a Imperatriz Leopoldina fala do nascimento do filho mais novo: “Perdoe-me, querido papai, por não lhe ter escrito pelo último paquete mas estava muito doente e não pude cumprir o dever doce para meu coração. Graças a Deus estou muito feliz, embora tenha dado à luz, com muito esforço e não sem ajuda de parteiro competente, às três horas da manhã do dia 2 de dezembro, um menino muito grande e forte, que recebeu no sagrado batismo o nome de Pedro”. Chegava ao mundo, assim, o segundo Pedro, quem governaria o Brasil por 49 anos, três meses e vinte e nove dias, período administrativo mais longo e mais significativo da história do país.
Lançado há poucos meses pela Companhia das Letras, o livro “Pedro II”, do escritor José Murilo de Carvalho, faz o leitor comparar o passado de honradez do Segundo Reinado com o presente de desonra de parcela dos políticos brasileiros. A obra traça o perfil de um rei sem grandes alegrias, mas digno ao extremo, e de um reinado sem pompas, mas voltado somente para o bem comum; de um democrata de cetro e coroa a reger um governo de muita liberdade. Esse tema revela-se nos títulos de dois artigos de jornal: Carlos Heitor Cony publicou na Folha de S. Paulo “A democracia coroada” e Murilo Melo Filho escreveu “D. Pedro II: Imperador republicano”, publicado na Tribuna do Norte. Bastam essas páginas da imprensa, escritas por dois dos mais expressivos nomes das letras do Brasil, para mostrar a importância e a dimensão que tem o livro do também Acadêmico José Murilo de Carvalho.
Logo no primeiro capítulo o autor ressalta a diferença entre o homem público quase perfeito, instruído para ser exemplar chefe de Estado, chamado D. Pedro II, imperador do Brasil; e o outro, Pedro D’Alcântara, homem simples, cidadão comum, erudito, amante das ciências e das letras que detestava as glórias do cargo e do poder. São 276 páginas com excelente texto histórico/ biográfico que envolve o leitor pela evidência dos dramas pessoais e pelas subjacentes lições de ciência política. O livro é capaz de resgatar o orgulho nacional, ao trazer o passado digno e honrado de um homem público considerado pela crítica internacional como “governante modelo do mundo”.
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