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Há poucos dias, dois amigos diletos morreram, um deles, logo depois de completar sete décadas, e o outro, aos 54 anos de idade. Vítimas de câncer, ambos tiveram apenas meses de vida após o diagnóstico, apesar de receberem os melhores cuidados médicos possíveis. A impressão que se tem é de haver um aumento da incidência dessa doença nos tempos atuais. Seria a ação de uma medicina mais efetiva para se chegar a uma conclusão diagnóstica? Ou seria uma condição de vida mais cheia de estresse, repleta de efeitos deletérios sobre o corpo humano, muitos poluentes, radiações, enfim, uma plêiade de fatores externos próprios dos tempos modernos a propiciarem anômalas mutações gênicas, com o aumento real dos casos de câncer?
Do livro "O Imperador de Todos os Males (Uma biografia do câncer)", do escritor Siddhartha Mukherjee, nascido na Índia, mas pesquisador e Professor nos Estados Unidos, detentor do Prêmio Pulitzer não ficção 2011, retirei o relato do caso de Atossa, rainha da Pérsia, cerca de cinco séculos antes de Cristo. Por volta de 440 a.C., o historiador grego Heródoto registra o drama de Atossa, que descobriu um tumor grande e sangrante em uma das mamas. Cansada de tanto padecer, em um acesso de fúria, ela mandou um escravo extirpar-lhe com uma faca a mama doente. Depois da insólita cirurgia, não se sabe quanto tempo ela viveu.
Para mostrar os avanços dos estudos e do tratamento do câncer de mama, o autor faz uma simulação do caso de Atossa através do tempo, fazendo-a surgir e ressurgir uma época depois da outra. Voltando a 2500 a.C., no Egito, ela tem o diagnóstico, um nome em um hieróglifo, mas não há tratamento. Cláudio Galeno, em 168 a.C., pensa que o tumor de Atossa é um excesso de bile negra. Cirurgiões medievais arrancam fragmentos de seu câncer com facas e escalpelos. Alguns prescrevem sangue de rã, estrume de bode ou pasta de caranguejo. Em 1778, na clínica de John Hunter, em Londres, o câncer da Rainha pode ser dividido em tumor precoce, ou tardio, invasivo. Para o primeiro, Hunter recomenda cirurgia local; para o segundo, só resta comiseração. Quando Atossa ressurge no final do século XIX, seu câncer é tratado com mastectomia radical, com excisão do tumor e remoção dos músculos profundos do tórax e nódulos linfáticos sob a axila e clavícula. A partir da década de 1950, ela se submete à cirurgia e ao uso de radiação terapêutica. Nos anos 1970, entram os quimioterápicos. A partir da década 1980, a junção da cirurgia, radiação, químio bem dirigida e terapia hormonal dão uma sobrevida a Atossa de até 30 anos. Logo depois, a Rainha começa a fazer estudos do genoma, previne-se do câncer na outra mama, bem como suas filhas podem detectar mutações gênicas as quais indicam cirurgia preventiva.
Do mesmo escritor, médico e pesquisador, Siddhartha Mukherjee, li recente matéria na revista Newsweek, na qual ele realça o quanto Steve Jobs foi capaz de criar avanços tecnológicos de usos práticos, mas lamenta não ter ele recebido em troca as benesses da ciência para prolongar-lhe a vida. Jobs morreu em 5 de outubro de 2011, aos 56 anos, com um câncer de pâncreas, raro, de tratamento precário. O autor mostra a evolução desigual dos estudos em diferentes tipos de cânceres e diz que é comum algumas dessas pesquisas ficarem restritas à biologia – o caso de Steve Jobs –, sem aplicação prática na medicina. Afirma que os Estados Unidos, onde, de cada 4 pessoas uma morrerá de câncer, gastaram, em 2008, 144 bilhões de dólares em guerras, e somente 5 bilhões nas pesquisas voltadas para essa doença. Ao terminar, Siddhartha pede desculpas a Steve Jobs e lastima não ter a ciência feito melhor em prol da sua saúde.
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