De grampos - Centro Universitário do Rio Grande do Norte - UNI-RN
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De grampos
09.09.2008

O eletricista me pede uma caixa de grampos, a fim de fixar fios elétricos, em pequena reforma que faço na minha casa. Devo dizer da emoção ao ver o desmonte dos antigos móveis, com os quais me acostumei durante mais de vinte anos. A reforma traz a sensação do novo, mas também traz a sensação do fim de um tempo que ficou na lembrança e na saudade. O pedido do operário, uma caixa de grampos, fez-me rir e pensar: “É o que não falta neste país.” Aliás, não são simples caixas, agora são maletas, e maletas inteligentes, com memória e ouvidos para lá de sensíveis. Resolvi, então, escrever sobre esse tema, ou melhor, sobre esses pequenos objetos e suas diversas funções. Primeiro, vou focar nos grampos que exercem trabalhos mecânicos, tidos talvez como de menor importância. Contudo, considero-os da maior importância e, mais do que isso, nunca deixam de ser éticos. São o oposto dos grampos eletrônicos os quais colidem com a ética, na maioria das vezes, pelo menos da forma que se usa hoje no Brasil. Loas para os grampos humildes e para suas tarefas de fixar os fios que passam em algum lugar, pois são úteis e são do bem, ajudam a iluminar, a acionar motores ou até a ativar um equipamento que trata de doenças. Lembro também dos singelos grampos de ferro, que prendem os arames nas cercas das fazendas. Em cada estaca de madeira, crava-se um grampo em forma de U, com as duas extremidades perfurantes, para manter o arame disposto em cintas. Esse tipo de grampo remete-me à infância, porquanto recordo deles embrulhados em papel bem grosso (não existia plástico), antes de seguirem para os cercados das terras do meu avô. E os grampos, também chamados de broches, que prendiam as fraldas dos bebês? As poucas vezes que tentei ajudar na troca de fraldas o fiz com medo de ferir o nenê. Há muito foram abolidos, mas não se pode esquecer seus áureos tempos de serventia. Na construção civil, bem como nas práticas cirúrgicas, existem várias formas desses objetos. E as mulheres são hábeis no uso de grampos, os bons, naturalmente. Elas usam no cabelo, para pôr um chapéu ou para garantir o penteado, usam para colocar uma flor na lapela do vestido ou para outras boas e úteis funções. Ah, ia me esquecendo de um tipo muito comum em toda casa e que serve para prender as roupas no varal. Esses todos são os grampos mecânicos e éticos toda hora, nos seus diversos destinos. E os grampos eletrônicos? Quando o uso é feito dentro da Lei, com autorização judicial, são peças de valor na elucidação de delitos e improbidades. Mas, quando usados a bel prazer de espiões oficiais ou privados, são a antítese das garantias constitucionais básicas dos cidadãos. As estranhas maletas eletrônicas foram parar, clandestinamente, no Congresso Nacional, no STF, e sabe Deus aonde mais. Adotaram-se medidas para sanear essa anomalia e, outra vez, fez-se ouvir a voz firme e segura, que não agride mas diz a verdade, do Senador Garibaldi Alves Filho. O Brasil passa por fase feliz da sua história, com ascensão da qualidade de vida do seu povo. No entanto, existe uma crise de ética a corroer as entranhas da nação. No caso dos grampos, não se pode inibir a ação policial correta no combate ao crime, pelo contrário, deve-se mesmo incentivar; mas também não se pode permitir o clima de medo e insegurança no país, capaz de reabilitar a frase: “Pense duas vezes antes de nada dizer.”

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