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Desafios da pesquisa sustentável: aluna FARN entrevista Clóvis Cavalcanti, que abre o X Conic, nesta quinta (28)
28.10.2010
O professor Clóvis Cavalcanti, o Economista “verde”, abre o X Conic, nesta quitna-feira 28 de outubro na FARN, com a palestra “A pesquisa para o desenvolvimento sustentável no Rio Grande do Norte”, que é tema do Congresso, abordando os desafios da pesquisa para o desenvolvimento sustentável. A aluna concluinte do Curso de Especialização em Gestão Ambiental da FARN, Jessicleide Fernandes, conversou com o pesquisador sobre o assunto. Segue abaixo uma prévia do assunto.
JESSICLEIDE FERNANDES - Como o senhor entende o Desenvolvimento Sustentável?
CLÓVIS CAVALCANTI - Na verdade, só pode haver desenvolvimento que seja sustentável. Pois se ele é insustentável, vai acabar. Não é, portanto, desenvolvimento, mas alguma coisa como um espasmo. O desenvolvimento sustentável é aquele que dura. É aquele, portanto, que pode ser sustentado. E quem o sustenta em primeiro lugar é a natureza, o ecossistema, do qual dependemos para tudo. Dessa forma, para que possa se sustentar, ele tem que levar em conta as regras e os limites da natureza. Mas não pode descuidar do bem-estar humano, dos valores da cultura, da realização plena da cidadania.
Do ponto de vista sócio-ambiental como o senhor define o Desenvolvimento Sustentável?
Do ponto de vista sócio-ambiental, o desenvolvimento, para ser sustentável, deve usar os recursos renováveis a um ritmo inferior ao da sua reprodução; e os não-renováveis, procurando investir os rendimentos deles obtidos para o desenvolvimento científico e tecnológico no sentido de encontrar substitutos renováveis. No fundo, trata-se de minimizar o uso de matéria e energia para obtenção de máximo bem-estar social.
Como sabemos, na eterna busca por crescimento econômico, o homem esqueceu do equilíbrio necessário à sociedade para crescer de modo sustentável. Será que um dia teremos uma sociedade com essa configuração? Quais as experiências que poderíamos apontar nesta direção?
Nunca existiu uma “eterna busca por crescimento econômico”. De fato, a civilização tem 5.000
anos e o crescimento só começou a acontecer nos últimos 250 anos. Hoje, pensa-se e age-se
como se o crescimento econômico fosse a regra para a Humanidade. Não é. Crescimento significa necessariamente esgotamento de recursos, destruição de alguma coisa do meio ambiente. Não existe nenhum exemplo de sociedade desenvolvida que seja ecologicamente sustentável, simplesmente porque as sociedades desenvolvidas (Grã-Bretanha, Estados Unidos, Alemanha) chegaram a esse nível há menos de 250 anos. Sustentáveis foram as sociedades indígenas no Brasil que tinham 12.000 anos de existência quando os portugueses chegaram aqui. Quem garante que a sociedade americana vai ser como é daqui a mais 250 anos? Ninguém, nem mesmo daqui a vinte anos!
É possível equilibrar o crescimento econômico com um meio ambiente sustentável?
Não. O crescimento implica sempre menos meio ambiente. O planeta não cresce; crescendo a
economia, obviamente o meio ambiente diminuirá. Quanto mais gente no planeta, quanto mais produção econômica, tanto menos natureza existirá. Em outras palavras, como falam os economistas, existe um custo de oportunidade ambiental do crescimento econômico. O que pode, sim, acontecer é um desenvolvimento ambientalmente sustentável. A questão é que desenvolvimento (evolução, progresso) não é crescimento (aumento, expansão). Amartya Sen conceitua o desenvolvimento como “expansão das liberdades”, ou seja, mais cidadania. Isso não é crescimento. E olhe que Sen é Prêmio Nobel de Economia de 1988; sabe do que está falando.
As desigualdades sociais no Nordeste brasileiro são feridas ardentes, promovidas e provocadas pelo modo de produção e consumo existente defendido pelos ricos e poderosos. O senhor acredita que um dia haverá uma gestão democrática e participativa capaz de mudar o quadro da região?
É possível, sim, desde que exista mobilização da sociedade. Com apatia, conformismo, domínio da TV sobre a mente das pessoas, isso não acontecerá. Precisa-se de uma sociedade com autonomia para pensar o que é importante para ela.
A região do Seridó do Rio Grande do Norte está passando por um sério problema ambiental caracterizado como “desertificação”. Uma das causas do problema vem ocorrendo devido ao grande número de empresas ceramistas que atuam na região utilizando a lenha como combustível sem nenhuma ação mitigadora. Questionados sobre o assunto, governantes e empresários dizem que é muito caro trazer para região o gás natural. Diante dessa realidade, o que fazer? Comparando-se com outras experiências, ao prosseguir a retirada da lenha sem nenhum controle de reposição da mata, em quanto tempo a região se tornará um deserto? O senhor conhece estudos prospectivos sobre o assunto?
Para se usar floresta como lenha, é preciso haver uma gestão ambiental que permita a extração da madeira respeitando o ritmo de reposição da vegetação. É como uma cisterna de 16.000 litros. Se a entrada de água é de 5.000 litros por semana, retirando-se até 712,9 litros por dia, dá para contar com a cisterna sempre; mas se a retirada de água é de 800 litros semanais (5.600 por semana), a água vai acabar. Quem mora no Seridó sabe disso. Mais caro do que levar o gás natural para a região é retirar a madeira mais rápido do que ela pode se recompor. No final, tem-se o deserto. Quem ganha com isso? A sociedade precisa não só de alfabetização ecológica, mas de aprender a fazer conta.
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