Diálogo no céu - Centro Universitário do Rio Grande do Norte - UNI-RN
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Diálogo no céu
13.07.2012

Diálogo entre Ronaldo Cunha Lima e São Pedro, quando o poeta chegou ao céu: – Bom dia São Pedro, posso entrar? – Aqui você tem lugar cativo, prezado poeta, pois a balança das virtudes e dos pecados é muito a seu favor. – Essa última palavra me chama a atenção, será por favor que as portas se abriram? – Nada disso, meu caro Ronaldo, seus méritos de poeta são grandes, mas muito maiores são seus méritos de cidadão. – Antes de tudo, meu caríssimo Santo, quero pedir-lhe perdão pelos erros que cometi. – Poeta amigo, você já foi perdoado há tempos: quem não erra vez por outra? O que importa é o enorme valor das suas boas qualidades, a sua obstinação de fazer o bem ao próximo, os seus exemplos de homem público honesto e de político sempre digno, de pai de família amoroso e pronto para manter a felicidade do lar. Afinal, prezado amigo, Jesus também perdoou minhas fraquezas, até mesmo quando lhe neguei o nome por três vezes.

– Queria agradecer-lhe em versos, algo que gostava tanto de fazer lá na terra, mas aqui estou meio confuso, diante da sua presença e neste lugar tão bonito. Não estou cansado, apesar de ter passado longo tempo com uma doença inexorável. Porém, os meus entes queridos quiseram que eu ficasse em casa, nos meses finais do meu tormento, junto de todos, da minha querida mulher, Glória, e dos meus filhos e netos, além da presença afetuosa da família e de amigos. Deram-me conforto, carinho e força para enfrentar o sofrimento e a certeza da partida para a outra dimensão da vida. Isso tudo me trouxe paz e me fez refletir sobre os caminhos que trilhei. Na verdade, reconheço, fui poeta não somente por fazer versos, apreciar a rima, mas por auscultar em mim a própria poesia e por trazer comigo o "sentimento do mundo". Com a mente ainda em mutação, permita-me, caro São Pedro, recitar-lhe o soneto Noite, do poeta Luís Carlos Guimarães, ele que aqui chegou antes de mim: "Separando mar e céu / a linha do horizonte / circunda a terra / até que meus olhos / encontrem a escuridão". – Sinto-me alegre por recebê-lo no céu, você que foi um homem e um líder do bem, que declinou de uma vida tranquila em seu próprio proveito para se dedicar por inteiro ao serviço de apoio aos mais carentes, mesmo tendo de amargar algumas injustiças. Contudo, fique certo, caro amigo, que seus exemplos e seu trabalho em prol do povo paraibano não foram em vão, e, de agora em diante, irão florescer na lembrança dos pósteros e na sagrada missão dos seus sucessores, sob a chancela do seu irmão Ivandro e do seu filho Cássio.

Nesse instante, Ronaldo Cunha Lima põe-se de joelhos e reza, quando uma luz se acende para revelar a figura de São João. – Seja bem-vindo, poeta do povo! Como esquecer seus anseios para implantar em Campina Grande uma das maiores festas de São João do Brasil? Muito me alegra ver as festas populares com o meu nome, tal qual a da sua querida cidade, por conta da sua devoção cristã e do seu amor a sua gente. – Sou-lhe eternamente grato, Santo amigo João, você... O poeta, então, parou de falar, pois uma festa (com sanfona, zabumba e pandeiro, o céu com bandeirinhas, a quadrilha correndo solta) abriu-se aos seus olhos. Ronaldo, já sem cadeiras de rodas, entrou logo no clima festivo, recebendo beijos e abraços dos entes queridos que lhe precederam nessa viagem eterna.

De repente, acordei e corri para escrever o teor do sonho que tive um dia depois do encantamento do poeta. Quem garante que as cenas descritas são somente um sonho? De uma forma ou de outra, fica a certeza de que o nome de Ronaldo Cunha Lima, tão querido e tão amado pelo seu povo, ficará gravado no painel da história política do Brasil, entre os mais dignos, probos e competentes homens públicos do país.


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