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Do conto de fadas à tragédia
17.01.2013
A mulher, cada vez mais, assume tarefas e funções de destaque, em todos os setores das atividades humanas do mundo ocidental. Esta mudança de padrões, com o crescente valor do papel feminino na sociedade, não ocorreu de repente, foi um processo lento de evolução social, sem um momento histórico de ruptura única. Contudo, não seria este o maior legado das gerações do século XX ao futuro da humanidade? Agora, até a inflexível monarquia britânica se rende a essa realidade. Estão mudando as regras para a sucessão do trono, com a supressão da primazia do sexo masculino. O direito à coroa não depende mais do sexo da criança como era antes, quando uma menina primogênita perdia sua chance para um menino nascido depois. A gravidez da duquesa Kate Middleton, mulher do príncipe William (2º da lista para assumir o trono), desperta ainda mais curiosidade, pois o bebê – seja menino ou menina – será a 3ª pessoa na agenda da sucessão da realeza britânica.
No entanto, tudo depende ainda da aprovação dos parlamentos de 16 países do Commonwealth, entre eles o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia, embora já exista um pacto para atender a proposta do Palácio de Buckingham. A rainha Elizabeth 2ª é a chefe de Estado de todas essas nações, que são independentes mas comungam valores e alianças, onde a monarca desfruta de grande admiração e respeito. Outra mudança nas regras é a possibilidade de o(a) herdeiro(a) do trono, desde que permaneça Anglicano, poder agora casar com uma pessoa católica. A Igreja Anglicana, cuja autoridade máxima é a rainha, separou-se do Vaticano e renegou o poder papal há quase cinco séculos.
Espera-se total adesão dos parlamentos às mudanças para normas mais modernas na sucessão de reis e rainhas do Palácio de Buckingham. Portanto, a força da mulher nos tempos atuais foi capaz de vencer até mesmo a blindagem de tradição da coroa britânica.
É impressionante como os passos dessa família real são seguidos por tantas pessoas ao redor do mundo. Deve ser a aura de conto de fadas mantida no imaginário popular, quase sempre a permear a vida daquela monarquia. Infelizmente, o conto de fadas do casamento de William e Kate, que se renovou com a notícia da gravidez da duquesa de Cambridge, vinculou-se a uma tragédia, não por causa do príncipe ou da sua consorte, mas pelas circunstâncias da vida do famoso casal.
Jacintha Saldanha, enfermeira indiana de 46 anos, casada, mãe de 2 filhos, morreu após entrar em choque psíquico, devido a um trote de que foi vítima. Jacintha estava em trabalho na recepção de um hospital de Londres quando recebeu uma ligação telefônica pedindo informações sobre o estado de saúde de Kate Middleton, que lá se encontrava internada devido a enjoos causados pela gravidez recente. Do outro lado da linha, uma mulher e um homem se identificaram como sendo a rainha Elizabeth 2ª e o príncipe Charles. Ciosa de seus deveres, Jacintha acreditou se tratar de ligação veraz e passou a adotar medidas para atender a demanda real. Mas a demanda não era real, era falsa: dois radialistas australianos foram os autores do trote, o qual virou piada de âmbito internacional.
Chocada com a repercussão do fato, a enfermeira entrou em rápida depressão, e, poucos dias depois do trote, foi encontrada morta em um alojamento ao lado do Hospital, com forte suspeita de suicídio. A essa altura, os radialistas da 2 Day FM de Sydney devem estar por demais arrependidos, porém, “agora é tarde, Jacintha é morta”. O caso é um alerta, não somente aos colegas de profissão dos autores, mas a todos os que usam as diversas mídias, muitas vezes sem nenhum respeito à dignidade individual nem atenção à reação de cada um. Trata-se, a meu ver, de crime grave por desonra e abuso profissional. Um drama real na terra de Shakespeare.
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