Duas cirurgias - Centro Universitário do Rio Grande do Norte - UNI-RN
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Duas cirurgias
04.04.2013

Nos dias atuais, todos sabem e todos se comprazem em saber da maior chance de serem mais longevos. Apesar dos avanços, a vida do ser humano ainda é muito curta, mas há motivos para júbilo, porquanto, no passado, essa certeza era bem pior. Um dos fatores cruciais para as mudanças é a evolução da medicina, da qual, há pouco tempo, recebi as benesses. Em outros tempos, os eventos e danos à saúde de uma pessoa, semelhantes aos que sofri em dias recentes, podiam ter sido letais ou deixado um espólio nada otimista. Até chegar aos 73 anos, nunca precisei de me tratar por meio de cirurgia de médio ou grande porte, porém, no período de 04 meses, fui levado duas vezes para centros cirúrgicos. Agora, na fase de recuperação da segunda cirurgia, ainda estão na lembrança tantos gestos solidários de amigos, tantas mensagens de apreço, tantas orações que nascem e renascem na fé e na bondade do coração, além de serem ânimo para minha própria fé. Expresso gratidão aos médicos e aos profissionais de outras áreas que me atenderam, dando-me as condições para auferir, por mais tempo, as dádivas por estar no mundo, ou seja, propiciando-me "mais anos de vida e mais vida aos anos".

No final de outubro de 2012, estava pronto para fazer uma biópsia de próstata, quando passei a sentir dor abdominal e febre. Com a piora dos sintomas fui à consulta com um colega clínico, o qual pediu uma ultrassonografia de urgência. Não deu outra, o diagnóstico foi apendicite aguda. Saí do local do exame direto para o hospital, pois, para essa enfermidade, impõe-se tratamento cirúrgico sem delonga. Pela primeira vez, vesti o camisolão de hospital e segui de maca do quarto para o centro cirúrgico. Operado por laparoscopia, acordei algumas horas depois, e, afora pequeno desconforto abdominal, sentia-me muito bem. A recuperação foi rápida a ponto de voltar ao trabalho em poucos dias. Alguns amigos brincavam comigo, lembrando que tivera doença de gente jovem, um bom sinal quanto à minha condição de saúde geral. No entanto, a par do riso do momento, na minha mente estava o espectro da questão que eu sabia ser maior, o da próstata.

Refeito da cirurgia do apêndice, fiz a biópsia de próstata, e, em dezembro do ano passado, recebi o laudo do exame patológico: dois focos de adenocarcinoma. Primeiro, veio o choque, a palavra câncer a dominar a cena, as previsões funestas, as possíveis sequelas dos possíveis tratamentos, enfim, o medo – quase pânico – do pior. Mas esse estado ansioso logo se dissipou, principalmente após uma conversa com o urologista Dr. Paulo Medeiros. As lesões eram pequenas e as células malignas eram de menor agressividade, ou seja, o prognóstico era bom.

A segunda maior causa de morte em homens por doenças malignas é o câncer de próstata. Isto ocorre porque ainda existe o preconceito machista de protelar as consultas médicas que exigem o toque retal. A dosagem do PSA no sangue persiste como um meio auxiliar de grande valor, além de outros, a fim de detectar as lesões mais significativas da glândula. Em comum acordo com os médicos que me atenderam, fiz a opção pela retirada da próstata, cirurgia realizada no final de fevereiro passado. Desta feita, foi usado o método convencional, e não a laparoscopia.

Muito se sabe a respeito das sequelas – felizmente transitórias – da prostatectomia radical, entre elas certa disfunção urinária. Ao chegar em casa, 05 dias depois de operado, com sonda saindo da bexiga pela uretra e com bolsa coletora de urina, meu neto Gabriel – 10 anos – perguntou: "Vô, quanto tempo você vai ficar com essa borracha?" Com a resposta de que seriam ao todo duas semanas, ele completou: "Então vô, quando retirar isso você vai ter de aprender a urinar de novo". Estou ainda nessa fase, de reaprender a urinar. Porém, como sempre fui aluno de médio para bom, mais uma vez tenho feito a contento o dever de casa, no tocante à dedução do esperto netinho Gabriel.


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