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Elos da Vida
13.03.2008

Por dois dias, esteve reunido o grupo familiar Pessoa/Ramalho, ao qual pertenço e que tem raízes paraibanas. O motivo principal era celebrar a jovialidade dos mais longevos. São cinco mulheres notáveis, cheias de vida, fortes, que ostentam essa láurea e nem vêem o tempo passar: Noilde, Aline, Haydée, Yeda e Zilpe; e um homem – Amaury – que já caminha na nona década. Lépido, ótimo no jogo de xadrez, saúde em forma, bom humor, Amaury tem todas as condições para vencer a meta dos cem. As “meninas” guardam o mesmo otimismo, pois sabem se cuidar, aproveitam bem a vida e crêem na força dos genes. Os organizadores, Fred e Dina, fizeram o máximo para reunir as quatro gerações, bem assim, para que os valores dos elos de família fossem ressaltados, em especial para os mais novos. Foi perfeito o planejamento do encontro. O objetivo era voltar aos locais onde viveram os ancestrais. O grupo saiu de Natal em um ônibus e em vários carros, com destino a Tacima, primeira cidade paraibana depois da divisa estadual, no rumo de Passa e Fica. Lá, ainda se encontra a casa em que viveram meus bisavós maternos e os seus oito rebentos, duas mulheres e seis homens, dos quais três se formaram em Direito, um em Odontologia e um em Medicina. É um sobrado lindo, grande, que mantém seus traços originais, cobertura em duas águas, o mesmo assoalho, as mesmas portas altas e as mesmas janelas em arco. Presume-se que foi construído no final do século XIX. Há notícias de que meu avô, Francisco Targino Pessoa, saía de uma fazenda próxima, montado a cavalo, e passava em frente a essa casa, pois sabia que nela moravam duas moças bonitas. Uma delas, então chamada de Olindina Amâncio Ramalho, já prevendo a hora que o garboso cavaleiro chegava, corria a uma janela do andar superior, para rápidas trocas de sorrisos. Depois, vieram as cartas com juras de amor trocadas por meio de mucama de confiança. Descoberto o segredo, então, as cartas tinham de receber primeiro o “ciente” do pai da namorada. Porém, ali estava selada a união das famílias Pessoa e Ramalho. Essa história faz lembrar Gilberto Freyre, em Sobrados e Mocambos: “O patriarcalismo brasileiro, vindo dos engenhos para os sobrados, não se entregou logo à rua. E a maior luta foi travada em torno da mulher, (...) a quem o “pater famílias” do sobrado procurava conservar o mais possível trancada na camarinha”. A próxima visita foi à fazenda Tanques, no município de Belém. A fazenda pertenceu aos meus bisavós, do ramo dos Pessoas, e agora é propriedade do casal Geraldo e Elza, que recebeu a todos com muita fidalguia. A casa-sede, construída por escravos por volta de 1860, está mantida em sua originalidade. Os atuais donos transformaram-na em espaço de muito bom-gosto, com decoração bela e apropriada. As paredes têm cerca de um metro de largura. Persiste um enorme quarto que era dos escravos, e, no centro, estão pequenos quartos sem janelas, as camarinhas. Desta casa-grande saía meu avô, a cavalo, para avistar minha avó, na pequena cidade de Tacima. De Belém a Borborema. Outra emoção que merece artigo à parte: encontro com os descendentes de José Amâncio Ramalho. Fim de tarde e pernoite na Pousada Laranjeiras, na Serra da Borborema, lugar bonito e calmo, onde todos puderam comemorar, unidos pelos laços de família, da amizade e do bem-querer.