As mulheres levam vantagens sobre os homens em muitos aspectos, até mesmo quanto ao tempo de vida, pois elas, no geral, vivem 6 a 7 anos mais do que eles. É por isso que é muito mais comum encontrar viúvas, cujos maridos mais cedo receberam a inevitável visita da “Moça Caetana”. Porém, como é por demais sabido, toda regra tem exceção, e algumas esposas viajam para o além antes dos seus esposos, deixando-os, na maioria das vezes, em total desatino, sem saber o caminho a seguir. Já as viúvas se adaptam melhor à nova condição, dedicam-se a atividades de lazer ou de apoio social, integram-se em grupos para reforçar amizades, enfim, olham para frente e curtem a vida de maneira alegre e feliz, sem deslustrar a memória do finado, seu saudoso companheiro. A opção por novo vínculo afetivo, no afã de refazer os laços sentimentais mais próximos, não é rara, o que é muito natural, tanto para o homem quanto para a mulher.
Minha querida mãe, Eunice, faleceu aos 89 anos, dos quais 29 foram de viuvez. Enquanto seu querido esposo viveu, ela esteve ao seu lado, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, ou seja, tudo conforme aquele juramento prestado perante o altar, o qual, nos dias atuais, passou a ser, em muitos casos, apenas um faz de conta. Após a morte súbita do meu pai, viu-se forçada a aceitar o inelutável e tratou de descobrir novas motivações. O sorriso que fugira por completo do seu semblante, voltava à sua face de forma lenta e gradativa, até tornar-se quase constante. Dedicou-se às artes plásticas, frequentou grupos de idosos, manteve seus hábitos de católica de profunda fé, e encontrou nas viagens, de pequeno ou de longo curso, um forte impulsor da sua alegria de viver. Tudo isso, é claro, ao derredor do amor familiar, em especial de filhos e netos.
Hoje, pelo ramo materno, as três pessoas mais idosas da minha família são mulheres, por sinal três viúvas: Haiddé, Yeda e Zilpe. Longevas e queridas são exemplos da resiliência feminina e da maior aptidão das mulheres para se adaptarem às novas circunstâncias. Haiddé já venceu os 90, é forte, saudável e alegre, prima de minha mãe, mas é a que mais se parece com ela. Gosta de dizer – e eu gosto de ouvir – que me embalou em seus braços, nos meus primeiros meses de vida. Foi casada com Amaury Ramalho, que morreu poucos anos atrás. Tia Yeda é uma jovem de quase 90. Casou-se com Alfredo Pegado Cortês, de quem ficou viúva há mais de 30 anos, e refez sua vida, de modo a expandir seu temperamento alegre e comunicativo. Viaja muito, gosta de música e já escreveu dois livros. Esequias Pegado Cortês, filho de Alfredo e de Yeda, diz que seu pai inventou o WhatsApp. Inteligente, cidadão de bem, Alfredo Pegado, nas suas venetas, deixava de falar com a mulher. Então, pregou um quadro-negro na sala, e o casal escrevia com giz suas curtas mensagens, um para o outro. Era o próprio WhatsApp. Tia Zilpe é a mais nova das três “meninas”. Muito jovem ficou viúva de Bianor Andrade, mas, 2 ou 3 anos depois, casou com Saulo Colaço, Saulinho, com quem viveu por cerca de dois terços da sua vida. Contadores e advogados, eram muito unidos, felizes, viviam um para o outro. A família temia pela saúde de Tia Zilpe, após a partida de Saulo. Mas ela já dá sinais de plena força para superar. Sinto-me bem ao receber sua bênção.
Daladier Pessoa Cunha Lima
Reitor do UNI-RN