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Ficção da vida real (3)
05.07.2007
“Prêmio Viagem – (...) promoção cultural que oferece ao vencedor um curso de inglês em Dublin, na Irlanda, com duração de duas semanas. A pergunta é: Por que os livros podem levar você longe?” (Tribuna do Norte - 28/ 07/ 2007)
Ele sempre teve propensão para o estudo de idiomas estrangeiros, mas nunca freqüentou uma escola especializada. Tornou-se um autodidata da língua inglesa, usando os meios mais disponíveis, principalmente músicas e filmes, sob constante incentivo da mulher. Assim, conseguiu algum conhecimento desse idioma e ficou muito contente quando viajou aos Estados Unidos e constatou sua evolução lingüística. Seus três filhos adolescentes, entretanto, estudavam em uma boa escola de inglês, pois queria oferecer-lhes a oportunidade que ele próprio não tivera. O orçamento familiar era limitado e, agora, a prioridade era a boa formação escolar dos filhos. A possibilidade de proporcionar-lhes uma viagem ao exterior, a fim de ajudar no crescimento cultural e no aprendizado da língua inglesa, era um sonho. Aliás, por mais de uma vez recebera do filho mais velho, então com 16 anos, reivindicação com esse propósito.
Num sábado pela manhã, o casal e a prole conversavam quando a mulher, que lia o jornal, exclamou: “Pronto, aqui está uma chance para vocês, uma viagem para Dublin, com tudo pago, para aperfeiçoar o inglês”. O primogênito foi logo dizendo: “Já ouvi falar dessa cidade, dizem ser muito bonita”. Motivado com a literatura em língua inglesa, o pai falou de Oscar Wilde e de James Joyce, nascidos em Dublin e escritores mundialmente reconhecidos. Wilde escreveu “O Retrato de Dorian Gray”, e Joyce é autor de “Ulysses”, obras-primas do romance universal. Disse, ainda, que de lá saíram três prêmios Nobel de literatura, fato inédito em todo o mundo, sendo Bernard Shaw o mais conhecido. E voltou-se para o tema da promoção cultural, lembrando-se da frase: “Não ler é pior que não saber ler”.
Durante a semana, o concurso foi o tema principal das conversas familiares. A mãe, professora universitária, orientou as pesquisas dos garotos. Combinaram dia e hora para apresentarem os resultados dos estudos. Na data aprazada, todos estavam presentes e bastante entusiasmados. O filho mais velho sinalizou que iria começar pela história do livro. Falou dos rolos de papiros da Antiguidade e arrematou: “Já pensou a dificuldade de ler em uma espécie de novelo e ainda mais da esquerda para a direita?”. Lembrou a biblioteca de Alexandria, que no século I a.C. abrigava meio milhão de rolos de papiro. Antes de Gutemberg, que inventou a impressão em tipos móveis, o livro se fazia em pergaminho ou papel, por meio de manuscritos, mas já se usava o códice, ou seja, páginas agrupadas e encadernadas, finalizou o jovem estudante. E seu pai completou: “A invenção da prensa tipográfica, em 1450, provocou um dos maiores avanços culturais e sociais da humanidade”. Neste momento, a voz materna se fez ouvir, para lembrar a necessidade de se responder por que os livros podem levar você longe. Várias opiniões surgiram, desde a idéia de que o leitor viaja com a leitura, transporta-se no tempo, no lugar e nas circunstâncias, até a conclusão do valor do livro na vida das pessoas, fazendo-as ir longe em seus objetivos e em suas vitórias. A partir daí, era escrever e ganhar a viagem para Dublin; conhecer a Irlanda, uma ilha européia do Oceano Atlântico, país com forte tradição cultural e onde, dizem, poeta não paga imposto. Bom, mas isso é outra história...
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