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Giselda Trigueiro
27.07.2006
Muitos não a conhecem, não sabem o quanto representou a vida dessa mulher para a medicina do Rio Grande do Norte. Não só para a medicina, mas também para diversas outras atividades, pois ela engrandeceu o cenário humano desta terra com sua participação efetiva e com sua simpática presença. Em maio passado, completou-se o vigésimo aniversário da morte de Giselda Trigueiro, nome que identifica o hospital público especializado nas doenças infecto-contagiosas. Tive o privilégio de trabalhar com a Dra. Giselda por vários anos, na disciplina de Doenças Infecciosas e Tropicais, depois transformada em Departamento, vinculado ao Curso de Medicina da UFRN, quando passei a admirá-la, ao longo de afável e grande amizade.
Por quase 25 anos, até o início de 1986, a administração do antigo Hospital Evandro Chagas e o ensino das doenças infecto-contagiosas que ocorria naquele Hospital tinham a médica Giselda Trigueiro como líder, mentora e orientadora de tudo e de todos. Apesar da deficiência das instalações físicas hospitalares, havia bom atendimento aos pacientes, associado a ensino médico bem-qualificado, pois sua voz era ouvida e seus ensinamentos, que se faziam por palavras e por atitudes, repercutiam amplamente. Elegante, no sentido mais abrangente, impressionava também pela altivez, altruísmo e lealdade aos princípios e valores éticos que lhe norteavam a vida. Todos aprendiam muito no serviço clínico por ela implantado e dirigido, tanto no que concerne à própria especialidade, quanto ao amor à medicina, à dignidade profissional, ao devotamento aos enfermos e à lealdade à ciência.
Não estava entre os professores fundadores da então Faculdade de Medicina de Natal, mas sua contribuição para a consolidação do ensino médico no Estado foi de grande relevância. Pouco tempo depois de criada a Faculdade, Giselda Trigueiro assumia a responsabilidade do magistério na área das doenças infecciosas e tropicais. Nessa função, fez escola. Com inteligência, bom-senso, perseverança, dedicação ao estudo e à pesquisa, formou um núcleo acadêmico que até hoje segue os princípios que ela deixou. Manteve intercâmbios e amizades com os mais reconhecidos professores-pesquisadores da especialidade no Brasil e era considerada expoente nacional no estudo clínico/científico do tétano. Livre Docente pela UFRN, com vários trabalhos de pesquisa publicados e apresentados no país e no exterior, criou a Residência Médica em Doenças Infecciosas, da qual tenho a honra de ter sido o primeiro coordenador. Fundou, ao lado de ilustres colegas, a Academia de Medicina do Rio Grande do Norte, presidiu várias entidades médicas no Estado, além de outras atividades que constam no seu admirável currículo.
Grandeza humana acompanhava todas suas ações, no exercício profissional, na amorosa convivência familiar, nas amizades e na participação comunitária. Até mesmo quando ouviu a sentença de que sobreviveria somente de 2 a 3 meses, em fase avançada de inexorável doença, ela disse ao médico norte-americano que a assistia: “Obrigada Doutor, pelos 6 anos de vida que o senhor me deu”. Consciente da inelutável situação de saúde, escreveu o próprio epitáfio, que se harmoniza à sua visão da vida e do mundo: “Aqui jaz Giselda, muito contra a vontade”.
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