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HIRAM DIOGO FERNANDES
23.02.2006
No dia 12/02/2006, aos 79 anos, Hiram Diogo Fernandes passou para a eternidade, serenamente, “como uma vela que se apaga”, no dizer de Marly, sua mulher e companheira muito querida, deixando saudades, em particular para a família, além do sentimento de tristeza e de perda de uma figura humana admirável, em quantos o conheceram, especialmente, seus amigos, discípulos e colegas médicos. Viveu e morreu com muita dignidade. Na lembrança de todos fica a imagem do médico exemplar e do professor competente, culto, que sabia e podia ser exigente, com aulas magistrais e motivadoras, elegante nos gestos, nas palavras e nas atitudes, um tanto circunspecto mas cordial e educadíssimo na forma de lidar com qualquer pessoa. Consciente da inexorabilidade da doença, pediu a Marly para não permitir reanimação nos momentos derradeiros, e manifestou satisfação por saber que seu corpo iria ficar em jazigo do Cemitério Parque localizado, coincidentemente, ao lado do monumento em homenagem ao cadáver desconhecido, por quem sempre manifestou agradecimento e respeito nas aulas de Anatomia Humana. Previamente, pagou seus funerais e outra vez solicitou à esposa que o vestisse de branco, pois, abdicando até mesmo das vestes de Professor Emérito da UFRN, queria ser sepultado com os trajes que caracterizam a Medicina, sua maior paixão, depois da família.
Hiram Diogo iniciou o magistério de Anatomia Humana na fase primeira da Faculdade de Medicina de Natal, hoje Curso Médico da UFRN, substituindo o italiano Luigi Olivieri, que antes exercera a função por dois semestres letivos. Em seguida, foi discípulo do Prof. Liberato DiDio, a maior expressão da Anatomia no Brasil. O Prof. DiDio, posteriormente, quando exercia a direção de uma universidade americana, tentou mas não conseguiu levar Hiram para os Estados Unidos. Depois de 20 anos no magistério de Anatomia, transferiu-se para o Departamento de Cirurgia, no qual permaneceu até a aposentadoria. Além de excelente professor, era um exímio cirurgião. Por muitos anos, participou com o Dr. Onofre Lopes, seu mestre e mentor, de incontáveis cirurgias. Quando Onofre Lopes faleceu, em 1984, instado por lideranças médicas e com aprovação da família, teve coragem para abrir o peito do amigo e arrancar-lhe o coração inerte, o qual está preservado no Museu da Medicina do CRM-RN, como um símbolo do amor que o fundador da UFRN dedicou à profissão e à própria Universidade.
Há cerca de dois meses, publicamos artigo sobre os 50 anos da Faculdade de Medicina de Natal, com referência aos professores pioneiros e, especialmente, a Hiram Diogo. No dia seguinte, sua voz ao telefone, já enfraquecida pela prolongada doença, gentilmente formulava agradecimentos. Disse-nos que não estava bem e concluía: “Mas desde ontem estou melhor, quando li o seu artigo”. Infelizmente, este texto já não causará essa mesma melhora. Contudo, representa uma justa homenagem à memória de Hiram Diogo Fernandes, mesmo que insuficiente para traduzir os grandes méritos do ilustre Médico e Professor recém-falecido. Na história da Medicina do Rio Grande do Norte haverá sempre um lugar de destaque para esse ícone da profissão, que amou e dignificou, com muita ética e competência, a prática e o ensino da arte e da ciência hipocráticas.
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