Honras a Anton Tchekhov - Centro Universitário do Rio Grande do Norte - UNI-RN
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Honras a Anton Tchekhov

Um assunto recorrente nos textos que escrevo, crônicas e artigos, para publicar nesta Tribuna do Norte, é a relação entre a medicina e a literatura. Existe sim uma afinidade entre essas duas áreas, haja vista a constante presença de médicos escritores, em qualquer país do mundo. No Brasil, destacam-se os nomes de João Guimarães Rosa, de Pedro Nava e de Moacyr Scliar. No âmbito global, há de se nominar Anton Tchekhov, Conan Doyle e Miguel Torga. Os seis médicos escritores aqui citados são apenas exemplos entre uma plêiade de figuras notáveis. Porém, o russo Anton Tchekhov (1860-1904) tem a primazia do reconhecimento mundial no tocante a reunir em uma pessoa a formação médica e a prática literária. Em um pequeno texto autobiográfico, Tchekhov escreveu: “Não duvido que a prática das ciências médicas tenha exercido forte influência sobre minha atividade literária; ela ampliou significativamente o campo de minhas observações, enriqueceu meus conhecimentos, cujo valor verdadeiro para mim como escritor só pode ser compreendido por quem é médico; ela também exerceu uma influência diretriz, e, provavelmente, graças à intimidade com a medicina, consegui evitar muitos erros.”

Filho de pequeno comerciante, vivia na cidade Taganrog, mas, ao concluir o curso secundário, mudou-se para Moscou e ingressou na Faculdade de Medicina. Durante a formação médica já se revelou no campo das artes e das letras, e surge o escritor sensível ao clamor social, porém, sem nunca se vincular a qualquer partido político. Exerceu a medicina de clínico geral e, a serviço do governo do seu país, empenhou-se no combate a uma epidemia de cólera. Amigo de Tolstói, dele recebeu influência literária, mas não se alinhou aos cânones desse famoso autor russo. Aos 25 anos, já era um escritor reconhecido pela crítica, autor de contos que traziam a insatisfação social dos cidadãos russos. Sobre a obra de Tchekhov, diz o escritor Moacyr Scliar, ao citar o escritor Máximo Gorki (1868-1936): “Nada há nos contos de Tchekhov que não exista na realidade. A impressionante força do seu talento reside no fato de que ele jamais inventa.” E o próprio Scliar resume: “Sua ficção caracteriza-se pelo realismo”. Deixou uma obra que se reconhece como um primor na arte de escrever, principalmente na condição de contista e dramaturgo.

Anton Tchekhov viveu apenas 44 anos, uma vida de muito trabalho e de pouco lazer, voltada para a medicina – que ele dizia ser sua esposa –, e para a literatura – tida por ele como sua amante. Doente de tuberculose pulmonar, desde os 20 anos de idade, Tchekhov somente se casou em 1901, três anos antes de falecer. Sua esposa, a atriz Olga Knipper, do Teatro de Arte de Moscou, tentou trazê-lo para uma vida mais feliz. Num verão, o casal viajou para a vila de Badenweiler, na Alemanha, um local saudável e de ar puro, no intuito de curar ou de melhorar da tísica. De repente, Anton Tchekhov sentiu-se mal e pediu a presença de um médico. Olga chamou o doutor Schwörer, a quem o doente balbuciou: “ich sterbe”, em alemão, “estou morrendo.” O médico acalmou-o, aplicou-lhe uma injeção e mandou servir-lhe uma taça de champanhe. O enfermou bebeu até o último gole, sorriu para a esposa e disse: “Fazia tempo que eu não tomava champanhe.” Poucos minutos depois, parou de respirar. Era o dia 15 de julho de 1904.

Daladier Pessoa Cunha Lima
Reitor do UNI-RN

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