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Convidado pela Academia Norte-Rio-Grandense de Letras para integrar Mesa Redonda em honras a Oswaldo Lamartine de Faria, na passagem do seu centésimo aniversário de nascimento, comecei minhas palavras assim: “Agradeço o convite, mas, devo dizer, sou o de menor conhecimento sobre a vida e a obra do homenageado, entre os integrantes da mesa, porém, afirmo que não é pequena minha admiração por quem foi o maior estudioso da “alma íntima” do sertão do nunca mais. Oswaldo Lamartine nasceu em 19 de novembro de 1919, em Natal-RN, e faleceu em 28 de março de 2007, na mesma cidade. “Sou sobejo da seca de 19”, disse o próprio Oswaldo, em conversa com o saudoso e grande escritor Sanderson Negreiros. Nessa conversa, que resultou em texto publicado no jornal O Poti (1966), Lamartine afirma que dois motivos o levaram para o estudo do sertão: primeiro, por ouvir muitas histórias e estórias, do seu pai, Juvenal Lamartine de Faria (1874-1956), sertanejo autêntico, acerca da vida no sertão; segundo, a aproximação com Câmara Cascudo, “que me incentivou, sugeriu estudos, emprestou-me livros e pediu-me informações”.
E a família Lamartine, de onde provém? No livro O Rio Grande do Norte no Senado da República, de José Augusto Bezerra de Medeiros (1884-1971), consta que Juvenal Lamartine de Faria era filho do Coronel Clementino Monteiro de Faria e de D. Paulina Umbelina dos Passos Monteiro. Então, por que Juvenal Lamartine? O próprio autor responde: “Tiveram em vista homenagear dois grandes poetas de renome universal: Juvenal, o satírico, e Lamartine, o lírico francês, cujos versos ainda hoje nos deixam cheios de ternura e de encantamento”. Ali, Em Serra Negra-RN, de um casal seridoense da gema, surgia o clã Lamartine, tão repleto de nomes que engrandecem o cenário humano do Rio Grande do Norte.
Juvenal Lamartine de Faria graduou-se na Faculdade de Direito do Recife, em 1897, sendo o melhor aluno e o orador da sua turma. Foi agropecuarista, político – deputado, senador, governador – e escritor, tendo exercido as funções de presidente da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras.
Oswaldo Lamartine, nos 21 livros que escreveu e publicou, comprova ser um expoente nacional nos estudos da vida e da cultura sertanejas, conforme disse a notável escritora Raquel de Queiroz: “Acho que, no Brasil, ninguém entende mais de sertão e de Nordeste do que Oswaldo Lamartine”. Quando o escritor potiguar a ajudou na formulação do romance Memorial de Maria Moura, confessou: “... senti-me como um garimpeiro que descobre uma mina”. Mas não é somente o conteúdo dos livros do escritor; ressalte-se também o seu estilo, sucinto e direto, no qual não se perde uma só palavra, e, ao mesmo tempo, é sonoro, ritmado e até poético. Na Apresentação do livro Sertões do Seridó (1980), de Oswaldo Lamartine, o erudito escritor Francisco das Chagas Pereira assim escreveu: “... nenhum dialetólogo conseguiria retratar com igual perfeição a linguagem sertaneja, como se encontra na obra de Oswaldo Lamartine, transparente, diáfana, perfeita expressão de conteúdos existencialmente capturados.”
Resta-nos prestar honras ao legado oswaldiano, e relembrar a frase do poeta francês Alphonse Lamartine (1790-1869): “Admiramos o mundo através do que amamos”.
Daladier Pessoa Cunha Lima
Reitor do UNI-RN
Publicado na edição desta quinta-feira (12/12/2019) do jornal Tribuna do Norte
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