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Honras a três diletos amigos
29.12.2011
“E o pó volte à terra, como era, e o espírito volte a Deus, que o deu”. Estas palavras do Eclesiastes 12:7 evocam a sabedoria para se entender melhor a transição de cada homem na terra. É uma interface com a percepção da vida efêmera, contida na frase comum de se ouvir: “O tempo passa muito rápido”. Foi com esta frase que um longevo amigo revelou a tristeza – tão nítida em sua face – pela recente morte da esposa querida. Retorno ao Eclesiastes – 1:5 – para dizer: “Nasce o sol, e o sol se põe, e volta ao seu lugar de onde nasceu”. Envolto nessas reflexões sobre a voragem do tempo e sobre a condição humana, presto honras à memória de três diletos amigos que, há poucos dias, se foram no rumo da eternidade, após jornadas terrenas plenas de êxitos.
Surpreso, leio notícia de que o médico Luís Evangelista, de vínculos com a cidade de Macau, partiu desta vida. Trabalhamos no antigo INPS, na função de médico clínico, época em que criamos ótima amizade. Sempre de bom humor, um tanto contido no sorrir e no falar, mostrava arguta inteligência, era autêntico, além de sarcástico com as atitudes esnobes e vulgares. A mente privilegiada se expandia por leituras que cultivava. Com boa formação clínica, na sua simplicidade foi um médico exemplar, pela atenção ao paciente, pelo humanismo e pela competência nos deveres da profissão. Todas as honras à memória do amigo Luís Evangelista, homem sábio, sem arroubos nem soberbas, que sempre soube professar e fazer o bem.
Por onde passou, Eudes Caldas Moura deixou imagem de pessoa íntegra, inteligente e criativa. Por vezes polêmico, Eudes era leal às suas ideias, aos seus ideais e aos seus princípios. Foi pioneiro no ensino da Ortopedia e da Traumatologia no Rio Grande do Norte, e sua cultura não ficava nos limites dos saberes da profissão de médico/professor. As artes lhe fascinavam, em especial o cinema e a música. Durante a celebração eucarística em sufrágio da sua alma, lembrei-me da missa de 7º dia que ele mandou celebrar para seu filho Paolo, vítima de bárbaro crime, alguns anos atrás. Vieram-me à lembrança os belos cantos gregorianos por ele escolhidos para aquele momento, tudo conforme o requinte da sua sensibilidade, além da imagem de um pai absorto e mergulhado na dor profunda, diante da tragédia por precoce e tão brutal morte de um filho. Há cerca de dois anos, visitou-me na FARN, quando me presenteou um exemplar do livro que reuniu os escritos de Otacílio Alecrim. Queixava-se de alguns enfados, mas estava alegre e animado. Em fins de 2010, recebeu a comenda Onofre Lopes do Conselho Regional de Medicina, evento que registrei em crônica nesta Tribuna do Norte. Fui seu aluno de medicina e seu amigo admirador; sua morte gera uma ausência humana muito sentida entre todos os que privaram da sua amizade.
Já se vão quase dois meses da partida do amigo Manoel Benício de Melo Sobrinho. Discreto, sóbrio e afável, seu alto valor intelectual ficava quase sempre oculto pelo natural recato. Manteve-se com absoluta retidão em todos os momentos da vida, seja no âmbito privado, seja no desempenho das várias funções públicas. Professor da UFRN, ocupou-se em muitas tarefas extras de relevância para a Instituição. Durante três reitorados, recebeu a missão de coordenar as ações para o reconhecimento dos cursos de graduação. Seu eficaz trabalho local e nas instâncias do MEC resultou no êxito dessa importante missão. Com justiça, a UFRN outorgou-lhe o título de Professor Emérito. Dedicou-se a vários afazeres em prol da comunidade, entre os quais se destacam os laços com Rotary Internacional. A paisagem humana de Natal sente a falta da figura inesquecível de Manoel Benício de Melo Sobrinho.
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