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Em seu livro Gente Viva, Câmara Cascudo (1898-1986) escreveu: “A Morte existe; os mortos não! Prolongo-lhes a companhia, nesses vestígios de convivência”. Transporto esse genial pensamento para a triste verdade da morte de Paulo Macedo (1931-2020), enquanto recordo passagens da sua vida, próprias de um amigo sincero e de uma pessoa íntegra, de cidadão correto, de homem que trazia sempre a bondade no coração. Foi um artífice de amizades, não somente no que concerne a ele mesmo, mas também no intuito de fomentar a paz e a boa convivência entre seres humanos. Não perdia a chance de ser útil e de fazer o bem, pois fazer o mal estava fora da sua agenda. Chega-me à mente uma quadrinha que Cascudo citava: “Se o bem não podes fazer,/ O mal não faças também/ Que o bem já fez sem saber/ Quem não faz mal a ninguém”.
Em artigo publicado no jornal Tribuna do Norte, o escritor, artista plástico e poeta Dorian Gray Caldas assim se expressou: “Diz-se sempre que Paulo Macedo nunca fez um inimigo; nunca escreveu para conseguir proveito próprio ou para denegrir a imagem de ninguém. E isto é certo e verdadeiro. É que acima do escritor, existe o homem Paulo Macedo, sua ética, sua sensibilidade, sua alma”. Era um porta-voz obcecado das lides culturais e educacionais do estado, sem perder sua função laboral de difundir tudo o que tinha valor no âmbito social como um todo.
Além dos jornais Diário de Natal e O Poti, nos quais brilhou por mais de quarenta anos, Tribuna do Norte e outros, Paulo Macedo também atuou no rádio e na televisão, haja vista o famoso programa Sala Vip, na TV Ponta Negra. Graduou-se em 1966, na Faculdade de Jornalismo Eloy de Souza, que se integrou à UFRN, fez o curso da Escola Superior de Guerra, e obteve certificação de diversos outros estudos. Mas o seu maior título conquistou-o ao longo da vida, com louvor, no dia a dia da profissão. Integrou as mais distintas instituições culturais e sociais do estado, tais como Academia Norte-Rio-Grandense de Letras – Vice-Presidente –, Conselho Estadual de Cultura, Instituto Histórico e Geográfico do RN, Rotary, entre outras, bem como foi membro honorário de órgãos similares de diversos estados. Recebeu muitas honrarias, dos setores públicos e privados. Nesse enfoque, poucas pessoas o igualam. Foi casado com Luíza Maria Dantas, pianista de escol, e do casal nasceu o filho Miguel Dantas Neto. Luíza tornou-se sua grande amiga. Seu segundo casamento foi com Tânia Macedo, com os filhos Paulo e Adriana.
Exerceu alguns cargos públicos, entre os quais destacam-se o de Secretário Municipal de Turismo – citado duas vezes por Câmara Cascudo no seu livro Na Ronda do Tempo – e Presidente da Fundação José Augusto. Nesta função, Paulo Macedo venceu resistências e conseguiu instalar o Memorial Câmara Cascudo, ao lado da antiga Catedral, com a escultura do homenageado na palma de uma mão, na frente do histórico prédio que abriga acervo do famoso escritor. Não pedia aplausos por ser honrado e honesto, nem recompensas por usar a profissão somente para fazer o bem. Morreu pobre, ao ponto de ter dificuldades de prover a própria vida simples que levava. Manteve-se digno e silente das suas agruras. A lembrança dos dias finais do amigo Paulo Macedo parece-me ter algo a ver com os versos do poeta português Augusto Gil: “Se aquilo que a gente sente/ Cá dentro, tivesse voz/ Muita gente, toda a gente/ Teria pena de nós”.
Daladier Pessoa Cunha Lima
Reitor do UNI-RN
Artigo publicado, excepcionalmente, na edição deste sábado (25/07/2020) do jornal Tribuna do Norte
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