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Honras ao médico Hellen Costa
17.12.2009
Suponha-se uma enquete para revelar qual o médico mais conhecido do Rio Grande do Norte: Hellen Costa estaria entre os mais votados. É provável igual votação se fosse para saber qual o melhor, o mais atencioso com os clientes ou o mais querido médico, entre os habitantes de Natal. Nesta cidade, é fácil encontrar uma família que tem Dr. Hellen Costa como referência em cardiologia. Na hora em que ele se afasta da clínica, forçado por contratempo da própria saúde, após 57 anos de intenso, eficaz e brilhante labor profissional, são justas as honras prestadas a esse médico notável. Hellen Costa dignifica a medicina na sua essência, no que ela tem de grandeza como arte e como ciência. No dia a dia da clínica ele soube e sabe exercer com maestria esses dois aspectos centrais da profissão. Além disso, soube acrescer de amor todo seu trabalho médico e preservar a ética no trato com o doente, nas lides com os colegas e com o meio social.
Sempre de bom-humor e cordial, mantém com os colegas uma conversa alegre, quando, vez por outra, surgem histórias de casos clínicos que povoam sua mente de devoto da medicina. Perguntei-lhe por que não foi um dos professores fundadores da Faculdade de Medicina, porquanto tinha todas as qualidades para tal missão. Respondeu-me que fora convidado por Dr. Onofre Lopes para a cadeira de cardiologia. O convite foi aceito, mas, pouco depois, Dr. Onofre sugeriu que ele mudasse para a cadeira de farmacologia, pois havia uma carência nessa área. Sentindo-se apto à plenitude somente em cardiologia, declinou do convite. No entanto, pode-se dizer que Hellen tem sido professor de verdade; para alunos e médicos que com ele convivem. Se não tem a sala de aula, ensina pela prática e pelo exemplo, nos ambulatórios ou nos hospitais. Sua vida mostra uma diretriz para quantos almejam exercer a medicina sob os cânones mais dignos da profissão.
O natalense Hellen Costa nasceu em 1926 e formou-se em medicina na Bahia, em 1952. Fez curso de pós-graduação no Hospital das Clínicas da USP, com o Professor Décourt, um dos papas da cardiologia brasileira. Além do próprio Prof. Décourt, fez grandes amizades com renomados especialistas do Brasil: Adib Jatene, Zerbine, João Tancresi, Radi Macruz, Bernardino Tranchesi, entre outros. Por delegação da Sociedade Brasileira de Cardiologia, foi presidente da secção do RN, por quase 10 anos, e teve a alegria de ver sua filha Sílvia eleita para presidir essa mesma entidade. É membro da Academia de Medicina do Rio Grande do Norte e recebeu vários títulos honoríficos, entre os quais a Comenda Onofre Lopes, do Conselho Regional de Medicina, e o Mérito Câmara Cascudo, conferido pelo Governo do Estado.
Alguns meses atrás, Hellen Costa, durante uma consulta médica, sentiu-se mal e foi direto para o Hospital Promater. Ao chegar, sofreu um desmaio, e quando seguia para exames radiológicos, já consciente, fez seu próprio diagnóstico, o qual depois se confirmou. Passou 75 dias hospitalizado, sendo 24 na UTI, com uma fase em estado de coma. Recebeu o melhor tratamento que se pode ter, e, ao acordar, ainda meio tonto, expressou o desejo de sair logo, pois seus clientes – citou alguns nomes – o esperavam. Já no quarto, chamou a filha médica e entregou-lhe um bilhete: “Está encerrada a minha vida profissional. São 57 anos de carreira médica; está encerrada! Todo o consultório e meu aparelho de ECG serão de Flavinha”. Foi um momento de muita emoção para a família, em especial para Flavinha, neta mais velha, filha de Sílvia e estudante de medicina. Por certo, esse gesto do avô, médico do coração, apressou as batidas do coração da futura médica. Honras a Hellen Costa, um ícone da medicina do Rio Grande do Norte.
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