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Jessé Dantas Cavalcanti
14.02.2008
Começo da noite de seis de fevereiro de 2008, Quarta-Feira de Cinzas. Atendo o telefone, e Ana Célia me diz: “Pai morreu”. Primeiro, o choque da notícia, a verdade inelutável, o sentimento de nada poder fazer. Logo depois, a frustração de não ter tido mais uma boa conversa com Jessé, antes da sua partida para outras dimensões, nós que guardávamos recíproca, sincera e grande amizade. Permaneci por bastante tempo no mesmo lugar, quase imóvel, a pensar no amigo há pouco colhido pela morte. Refiro-me a amigo de verdade, o melhor que alguém pode ter. Sua figura que sempre trazia aura benfazeja, seus gestos próprios de pessoa muito cordial, seu semblante alegre de quem está pronto para transmitir algo de bom ficaram a passar na minha mente, como se fossem uma forma impossível de querer trazê-lo de volta à vida. Lembrei-me, então, da família que estava sentindo a grande dor da separação, pois sabia o quanto de amor Jessé distribuiu com todos, tendo-os unidos pelo afeto, pelo bem-querer e pela profunda fé em Deus.
Jessé Dantas Cavalcanti morreu aos 87 anos, deixando um legado de honradez, de exemplos nobilitantes e de ética de vida. Cirurgião-dentista, exerceu a profissão de forma competente e digna. Por muitos anos, era distinguido em Natal pelo labor da profissão. Professor da Faculdade de Odotonlogia da UFRN, alinhou-se a grandes nomes docentes que marcaram com alto prestígio aquela unidade de ensino e pesquisa, a qual passou a figurar entre as melhores do país. Foi fundador e membro da Academia de Odontologia do Rio Grande do Norte. Recebeu diversas condecorações e homenagens da UFRN, e dos órgãos representativos da Odontologia do Estado e do Brasil. Com ampla cultura humanística, escrevia muito bem, fruto da sua inteligência múltipla e dos estudos, além das constantes e seletas leituras.
De 1979 a 1983, Jessé exerceu as funções de Vice-Diretor do Centro de Ciências da Saúde da UFRN. Nessa época, trabalhando lado a lado, conheci mais de perto suas grandes qualidades humanas, as quais se fizeram presentes na administração do Centro. Sempre repeti, a bem da verdade, que o êxito da gestão deveu-se mais a ele do que ao Diretor, porquanto prevaleciam suas corretas e sensatas orientações. Tive a oportunidade, então, de muito aprender com o amigo Jessé. Sua sábia visão da vida e do mundo, seu magnânimo olhar sobre o ser humano, seu Cristianismo convicto e fecundo, seu afã por justiça social devem ter influenciado meus passos dali por diante. Quando assumi as funções de Reitor da UFRN, em 1987, ele assumiu a Chefia de Gabinete da Reitoria, deixando o cargo após dois anos, para se dedicar à família, conforme suas palavras. Mais uma vez, prestou serviços de alto nível de competência à Universidade.
Para Crináuria, esposa e amiga, para os filhos Ana Célia, João Helder, Carito e Mário Ivo, para os netos, o abraço mais afetivo. Jessé partiu no dia das celebrações dos 400 anos de nascimento do Padre Antonio Vieira, que ensinou a todos por meio dos sapientes Sermões, entre eles o belo Sermão de Quarta-Feira de Cinza. Chego a pensar que Jessé, ao morrer no primeiro dia da Quaresma, deixou uma lição, como se fora uma mensagem assim: Aqui na terra, o que importa mesmo são os valores morais e espirituais; a jornada efêmera neste mundo deve se apoiar nas virtudes e na certeza do renascer para a outra vida, eterna, plena e feliz.
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