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João Paulo II: fé e razão
15.04.2005
om o título “O Professor Karol Wojtyla”, abordamos, em artigo anterior, aspectos da vida do papa que manteve fortes vínculos com a universidade: pesquisador, detentor de dois doutorados, orientador de teses, poliglota, inteligência fulgurante, enfim, um “scholar”, um acadêmico na sua expressão maior. Assim, ele conviveu prolongadamente na Academia, sendo aluno brilhante ou professor de aulas magistrais, sempre interagindo com seus pares na busca da verdade, pois esta é a precípua finalidade da ciência.
O que esperar de um papa com esse perfil, profundo em conhecimentos teológicos e filosóficos, no que concerne ao relacionamento entre a fé e a razão?
O pontificado de João Paulo II é considerado inovador, progressista, chegando a ser visto como revolucionário sob o prisma político-social. O prelado Karol Wojtyla pôde participar da fase dos debates do Concílio Vaticano II, oferecendo valiosa contribuição, bem como, da etapa subseqüente, já na condição de Pontífice. Sendo “o primeiro papa filho do Concílio, pois os outros eram seus pais”, seu carisma, sua intelectualidade, sua simpatia pessoal, foram essenciais para a mudança da Igreja no rumo da modernidade, em atenção aos pressupostos conciliares. E foi nesse tema, “Gaudium et Spes”, que se refere, preferencialmente, a polêmicas sociológicas, mais do que eclesiológicas, no qual o bispo Karol Wojtyla se destacou, durante as discussões do Concílio, com pronunciamentos que ajudaram ao surgimento de uma Igreja mais consentânea com a evolução das técnicas, da ciência e dos costumes. Destaca-se, também, a sua defesa pelo método heurístico do ensino, em que não é admitida a imposição autoritária da verdade, a qual deve ser encontrada pelo aluno através da ampliação dos seus próprios conhecimentos.
Galileu Galilei (1564-1642), cientista italiano, quase pagou com a vida pela defesa da teoria de Nicolau Copérnico (1473-1543), que defendia a tese heliocêntrica, provando o movimento da terra em volta do sol. Tendo sido obrigado pela Santa Inquisição a se retratar publicamente, para se livrar da morte, dizendo que a terra permanecia parada como centro do universo, Galileu teria dito baixinho: “mas ela se move”. João Paulo II encerrou, definitivamente, esse prolongado caso, historicamente desgastante para Igreja, numa demonstração de apreço pela ciência e da capacidade de dizer “mea culpa”. Em mais uma decisão surpreendente, o papa, no ano de 1996, fez uma abertura à teoria de Darwin, mostrando que pode haver conciliação entre o criacionismo e o evolucionismo. Em 1998, lançou a encíclica “Fides et Ratio”, no caminho da concórdia entre a fé e a razão.
No texto preliminar desse documento, o pensamento de João Paulo II fica bem explícito: “A fé não teme a razão. Estas constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade”. E mais uma vez ele transmite suas idéias sobre o tema: “Quando a fé não pensa, não é nada”.
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