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Durante muitos anos, as colações de grau da UFRN – campus de Natal – se faziam em duas grandes solenidades, nos meses de janeiro e julho. A primeira tinha como palco a praça cívica, na entrada do campus; e a segunda abrigava-se no Ginásio de Esportes, por coincidir com o período de chuvas. Em 1987, ano em que assumi o cargo de reitor da UFRN, a solenidade de colação de grau de julho mudou para setembro, talvez por causa de alguma greve que prolongou o semestre letivo. Os concluintes das diversas turmas elegeram Luís da Câmara Cascudo para patrono, e Veríssimo de Melo para paraninfo. Lembro-me que essa solenidade de colação de grau ocorreu com certa impaciência da plateia, até porque era uma noite de forte calor e sem a frequente brisa.
O paraninfo, Veríssimo de Melo, homem culto, professor da UFRN, escritor e pesquisador, proferiu seu discurso já na fase final do ato solene, como é de praxe nessas oportunidades, quando os formandos, parentes e amigos já queriam se livrar de discursos longos e de outras demoras. No entanto, houve um natural respeito ao orador, não somente ao ilustre nome do paraninfo, mas também ao conteúdo do texto sob leitura. Nos primeiros parágrafos, além de se referir de modo especial a Câmara Cascudo, patrono das turmas, Veríssimo de Melo se reportou aos primórdios da Universidade, criada por decreto estadual em 1958, assinado pelo governador Dinarte Mariz. Fez, então, um relato inusitado, pouco falado e pouco conhecido na história da instituição, ao revelar que a Reitoria da recém-criada Universidade se instalou, por alguns dias, no consultório médico do Dr. Onofre Lopes da Silva, na Av. Duque de Caxias – Ribeira, contando com apenas dois funcionários: Luiz Gonçalves Pinheiro, contador, e o próprio Veríssimo de Melo, nas funções de auxiliar de gabinete e de secretário do Conselho Universitário.
Veríssimo seguia com o discurso escrito, em seu típico estilo sóbrio e elegante, passando da fase heroica da UFRN para uma visão da identidade cultural brasileira, até alcançar o tema central de humanismo e universidade. À medida que o tempo passava, crescia a inquietação do público presente, o qual já não ficava silente, pois se ouvia um ruído surdo a dominar o ambiente. O reitor a tudo assistia, sem nada poder fazer. Lá pras tantas, à menor pausa do discurso, as palmas irrompiam, fato que induziu o orador a pensar que eram aplausos verdadeiros. Porém, logo percebeu que se tratava de um pedido velado para encurtar o seu discurso. Veio, então, algo próprio da verve e do bom humor de Veríssimo. Ele parou de falar, olhou para a plateia – nesse instante, fez-se total silêncio – e disse: “Agora, darei um ótimo presente aos meus afilhados, vou pular três páginas do meu discurso sem ler”. E passou mesmo, uma, duas, três, para encerrar rápido suas palavras com somente mais uma frase. A plateia explodiu em risos e palmas, autênticas palmas.
Veríssimo de Melo publicou esse discurso em plaquete, sob o número 471 da Coleção Mossoroense. Como sempre, revelou toda sua erudição ao abordar o tema Universidade e Humanismo. Concluo com uma das suas frases constantes no texto: “Temos que preservar a identidade cultural brasileira contra todos os processos niveladores das culturas exóticas”.
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