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Leopoldina
15.02.2007
Maria Antonieta, rainha da França guilhotinada em 1789, era tia-avó da arquiduquesa Leopoldina, que veio da Europa para casar com Dom Pedro, depois da transferência da corte portuguesa para o Brasil. O avô da arquiduquesa, o imperador da Áustria Leopoldo II, era irmão da desditosa rainha, levada ao patíbulo pela Revolução Francesa. Assim, a família real brasileira tinha parcial descendência dos Habsburgos, uma linhagem dinástica que por muito tempo dominou várias monarquias na Europa. Leopoldina cada vez mais é olhada não somente como genitora de Dom Pedro II, imperador que tem marcante presença na história do país, mas também por sua influência decisiva no processo da Independência, porquanto instigou D. Pedro – ainda indeciso e vacilante – para esse desiderato e assinou a declaração de separação do Brasil do domínio português, na condição de Princesa Regente Interina.
Leopoldina (1797-1826) nasceu em Viena, filha de Francisco I, imperador da Áustria, e de Maria Teresa. Assinale-se que Francisco nada fez para tentar salvar a vida da tia Maria Antonieta, quando a rainha da França estava sendo julgada pela Revolução Francesa. Poucos anos depois (1810), foi obrigado a dar a mão da filha mais velha, Maria Luisa, ao auto-coroado imperador da França, Napoleão Bonaparte. Maria Luisa retornou a Viena após a derrota de Napoleão, trazendo um filho desse casamento. O menino veio a receber a atenção e o carinho da tia Leopoldina, futura consorte do primeiro imperador do Brasil. É curioso se verificar que na França, por capricho do destino e em menos de três décadas, o sangue austríaco dos Habsburgos jorrou com a decapitação de uma rainha, e voltou aos palácios reais, circulando nas veias e artérias de uma imperatriz.
Leopoldina ficou órfã de mãe aos dez anos, um golpe para a família que sempre conviveu em ambiente de educação refinada e afetiva, nos padrões das cortes mais tradicionais da Europa. Francisco I casou, então, com a prima Maria Ludovica, mulher inteligente e culta, evento de forte repercussão no crescimento intelectual da futura imperatriz do Brasil. Os preceitos morais, a disciplina, a infância dourada e o esplendor dos palácios de Viena, permaneceram intactos em sua personalidade, e foram motivos de choque com a nova vida na corte brasileira.
Por séculos, os casamentos entre casas dinásticas exerciam papel importante em alianças diplomáticas. Educada para se curvar aos interesses do Estado, Leopoldina submeteu-se a esse papel, ao se casar com o príncipe D. Pedro, uma união entre a Casa de Bragança e a corte austríaca, na fase de reorganização de Europa pós-Napoleão. Depois de uma travessia marítima de três meses, encontrou o marido pela primeira vez no Rio de Janeiro. Em pouco tempo, manifestou todo o amor por aquele que seria o pai dos seus sete filhos, mas desvaneceu-se face ao desamor do príncipe herdeiro português, que se revelou um homem rude, pouco letrado e resoluto em se manter polígamo. Sem muitos atributos de beleza física, a princesa austríaca tinha, entretanto, boa condição intelectual, sendo fluente em francês e alemão. Escreveu muitas cartas, entre as quais encontram-se as 315 que ilustram o livro “D. Leopoldina – Cartas de Uma Imperatriz” (2006), lançado pela Editora Estação Liberdade, ensaio e tributo biográficos de grande valor.
Magoada, nostálgica e melancólica, sem nunca ter reencontrado as pessoas do seu bem-querer, a imperatriz Leopoldina morreu muito jovem, aos 29 anos. A memória histórica precisa reconhecê-la como personagem importante na formação política do Brasil.
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