Médicos e santos - Centro Universitário do Rio Grande do Norte - UNI-RN
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Médicos e santos
18.05.2006

“...van Gogh, depois de passar toda a vida pintando camponeses, macieiras e girassóis, confessou, das profundezas de sua convicção religiosa que, se lhe tivesse sido dado fazê-lo, gostaria de ter pintado as figuras dos santos”. Este comentário foi retirado do livro Os Santos que Abalaram o Mundo, de René Fülöp – Miller, autor das biografias de Lênin, Gândi, Tolstói, Dostoiévski e do Papa Leão XIII, além do best-seller “O triunfo sobre a dor”. A história dos santos é sempre motivo de interesse, especialmente dos cristãos, pois as vidas dos que alcançaram os altares se enobrecem pela imitação da vida de Cristo. Essa imitação serviu e serve de guia para a perfeição humana, através da renúncia, do amor e da aceitação de que a fé em Deus se sobrepuja a toda a realidade dos sentidos e que a eternidade é mais verdadeira do que todos os momentos. Medicina e santidade sempre tiveram interseções ao longo da história da humanidade. O próprio Jesus Cristo operou vários milagres de cura. Antes de alcançarem a santidade, alguns cristãos exerceram a medicina, após se graduarem em escolas médicas ou após aprenderem a profissão com clínicos e cirurgiões práticos, como se fazia e se aceitava na antiguidade. São Cosme e São Damião são exemplos de santos que praticaram a medicina. São relatadas curas extraordinárias dos dois médicos, irmãos gêmeos, que foram martirizados, por ordem do Imperador Diocleciano, no ano 287 da nossa era, em um 27 de setembro, que se transformou no dia consagrado aos simpáticos e populares santos. Cosme e Damião foram médicos na Cilícia, correspondente à atual Síria. Além de extrema habilidade na cura das doenças, devolvendo a saúde a quantos lhes procuravam, recusavam qualquer recompensa material pelos seus trabalhos profissionais. Por isso, ficaram conhecidos como médicos anárgiros – em grego, sem prata. Curiosamente, sabe-se que o crânio de São Cosme está guardado na catedral de Ímola, cidade onde morreu Ayrton Senna, fechado em luxuosa urna de prata! Certa feita, Damião aceitou um presente de uma viúva chamada Palladia, por eles curada, causando tamanha irritação em Cosme que declarou não querer ser sepultado na mesma tumba do irmão. Conta-se que a paz entre os dois se fez com a intervenção de um anjo enviado pelo Senhor... O culto a São Cosme e São Damião no Brasil iniciou-se em 1535, quando Duarte Coelho os fez padroeiros de Igaraçu – PE. Conhecidos como protetores das crianças e dos médicos, os santos gêmeos estão associados aos ritos e mitos africanos, principalmente na Bahia. Pintores famosos fixaram, através da arte, passagens marcantes da vida de Cosme e Damião. Na National Gallery of Art, em Washington, encontra-se a “Cura de Palladia”, de Fra Angelico. As telas mais conhecidas são as que se reportam ao milagre que os santos realizaram, muitos anos após suas mortes, quando amputaram uma perna gangrenada de um sacristão de pele branca e transplantaram uma perna de pele negra retirada de etíope há pouco falecido. O milagre está materializado nas pinturas de Fernando Del Rincón – Museu do Prado, Madri, e Fra Angelico – Museu de São Marcos, Florença. Esse foi o primeiro transplante da história, tornado verdadeiro pela crença popular e celebrizado pela expressão maior da arte mundial.

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