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Poucos dias antes de assumir o cargo de Reitor da UFRN, recebi de amigos algumas sugestões para pôr em prática na gestão prestes a começar. No rol dos conselhos e sugestões, houve uma mensagem de uma dileta amiga que me fez parar e pensar, cujo final dizia assim: Amigo, espero que você seja mais magnânimo e menos magnífico. Essas palavras nunca mais deixaram a minha lembrança. Aliás, magnânimo não é somente uma qualidade oposta à vaidade magnífica, porquanto traduz várias virtudes dos seres humanos, raras de coexistirem em uma só pessoa, de forma contínua, plena e irrestrita. Agora, quando pensei e refleti sobre a vida do amigo Miguel Josino, que partiu para a eternidade de modo tão brusco e prematuro, veio-me logo à mente a formação “Miguel, o magnânimo”, sobre a qual resolvi discorrer.
Ser magnânimo, o que isso quer mesmo dizer? Vou ao dicionário Houaiss e encontro: “magnânimo – 1. que, a despeito de todos os riscos e perigos, age ou pensa desinteressadamente com vistas a servir alguém ou a encarnar um ideal; generoso, bondoso, longânime; 2. que denota generosidade, bondade; 3. que perdoa com facilidade, que se mostra indulgente com o próximo”. Em inglês, escreve-se “magnanimous”, e o Cambridge International Dictionary of English assim define a palavra: “muito generoso e honrado, especialmente em relação a um rival ou oponente, após uma vitória”. Não podia deixar de lado o Aurélio, e eis o que ele diz: “1. Que tem grandeza de alma; generoso, liberal, longânime. 2 Próprio de alma nobre e generosa”.
Não devia cansar o leitor com definições de dicionários, porém, se assim o fiz, foi no intuito de mostrar o quão se adequa a palavra magnânimo ao perfil humano de Miguel Josino Neto, à sua conduta, seja no âmbito particular, seja na esfera pública. Não há outra palavra melhor para se vincular ao seu nome. Até na hora da morte, ainda na fase de transição da alma, a família, como se o ouvisse, optou pelo gesto largo do altruísmo, ao doar alguns dos seus órgãos para transplantes, a fim de levar amor, fé e esperança a várias pessoas, tal qual ele tanto fez na sua prática de vida. Todas as funções que exerceu, em qualquer tempo ou lugar, exerceu-as com magnanimidade. Foi sempre o homem bom, generoso, desinteressado, sem rancores, de riso fácil e de afeto constante, honrado ao extremo, pronto para servir e para causar bem-estar a quantos o procurassem, ou a quantos suas ações pudessem alcançar. Toda essa grandeza de alma se multiplicava por pertencer a um homem culto, inteligente e amante dos livros, um servo dos estudos e da leitura, um cidadão do mundo que tinha o olhar além fronteiras, mas sabia viver e valorizar as emoções telúricas.
A morte repentina de Miguel Josino causou consternação geral. Poucas vezes Natal viveu tamanho sentimento de perda, com a notícia triste que caiu como um raio sobre a cidade. Escritor, jurista que mereceu o mais alto conceito dos seus pares, professor querido e admirado pelos alunos – era professor do UNI-RN/FARN –, ainda tinha muito a fazer, na condição de um dos maiores talentos da sua geração. Sua missão aqui na terra ele a cumpriu de forma magistral, missão guiada por um dom: fazer o bem e ser útil ao próximo e à sociedade A família e os amigos mais chegados guardarão as boas lembranças dos muitos instantes felizes vividos em comunhão. No âmbito maior, e para que sirva de exemplo às gerações de agora e do futuro, ficará a memória de vida de Miguel Josino Neto, o magnânimo.
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