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Miss James
16.08.2007
A professora norte-americana Leora James, mais conhecida por Miss James, viveu em Natal de 1917 a 1922, no exercício das funções de Diretora da Escola Doméstica. Sua atuação foi fundamental para a consolidação do projeto idealizado e implantado por Henrique Castriciano, o qual visava promover a emancipação feminina por meio da educação, no molde das Ecoles Ménagère da Europa, especialmente da Suíça. Entre as seis ex-Diretoras estrangeiras da Escola Doméstica, ela se destaca pelo legado de uma gestão pioneira e inovadora. Reorganizou o currículo, com ampliação para o ensino das Artes, de História, Álgebra, Direito Usual, entre outras disciplinas, aumentou o ciclo de estudos para seis anos e criou rotinas necessárias à dinâmica da Instituição, muitas das quais estão até hoje inalteradas. Por exemplo, a breve oração repetida diariamente no refeitório da Escola – antes das refeições – vem do tempo de Miss James. A diplomação da primeira turma concluinte da ED, em 25 de novembro de 1919, no então Theatro Carlos Gomes, ocorreu sob a direção da educadora norte-americana, quando o paraninfo, Ministro Oliveira Lima, pronunciou memorável discurso em homenagem a Nísia Floresta.
Leora James, ainda muito jovem, veio para o Brasil na condição de missionária, por força da sua abnegação religiosa, indo morar no Recife. Antes, exercera as funções de diretora de uma escola na Virgínia – Estados Unidos. Sua transferência para Natal começou quando Henrique Castriciano convidou-a para conhecer a Escola Doméstica, após palestra sobre educação feminina proferida pelo ilustre norte-rio-grandense, na capital pernambucana. Veio, viu e gostou, pois logo retornou para assumir a direção do estabelecimento, que estava no terceiro ano de funcionamento, porquanto fora inaugurado em 1º de setembro de 1914. A vinda de Leora James para Natal se deve, portanto, a Henrique Castriciano, que, na época, às voltas com a implantação da Escola Doméstica, exercia o cargo de Vice-Governador do Estado e assumia a liderança literária da província, destacando-se pelas suas produções na prosa e na poesia.
A saída de Miss James de Natal, em 1922, se deve a outro grande intelectual e homem público notável, Antônio José de Melo e Souza (1867-1955), então Governador do Estado. Melo e Souza era homem austero, educado dentro de princípios rígidos do catolicismo. Solteirão, residia com duas irmãs solteiras, dessas que têm a Igreja como única razão de viver. O Governador soube de malévolo boato de que a Diretora dedicava-se a coaptar as alunas da ED para sua religião protestante. Inocente de tudo, Miss James dirigiu-se ao Palácio do Governo a fim de convidar o Governador para a solenidade de formatura da turma concluinte de 1922. Feito o convite, Melo e Souza secamente respondeu: “Senhora Professora, tenho o maior apreço pela Escola Doméstica e, especialmente, por seu fundador, Dr. Henrique Castriciano. Entretanto, sei que a senhora tem feito proselitismo junto às alunas, tentando atraí-las para a sua religião. Tem uma condição para a minha presença na solenidade: a ausência da Diretora”.
Essa passagem foi contada à Professora Noilde Ramalho pela própria Leora James, quando as duas se encontraram no Rio de Janeiro, muitos anos depois. Disse ter sido esse episódio a maior decepção da sua vida. Magoada e sentindo-se alvo de injustiça, Miss James entregou a direção da ED e deixou Natal, para nunca mais voltar.
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