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Miss James (2)
30.08.2007
Em artigo anterior, tentei mostrar a importância do trabalho de Miss James nas funções de diretora da Escola Doméstica. Henrique Castriciano teve a lucidez de entregar seu audacioso projeto de educação feminina a essa educadora norte-americana. Entristecida por desagradável episódio envolvendo o governador do Estado, Leora James deixou Natal no final de 1922. Cerca de 30 anos depois, a professora Noilde Ramalho, na Direção da Escola desde 1945, soube, por intermédio do Dr. José Augusto Bezerra de Medeiros, que a ex-diretora residia no Rio de Janeiro, no Hotel Serrador, centro da cidade. Na próxima viagem ao Rio, Noilde Ramalho dirigiu-se a esse Hotel e perguntou na recepção pela hóspede Leora James. Quando o funcionário informava da inexistência de tal nome entre os hóspedes, uma senhora se aproxima e inicia o diálogo:
― Por favor, a senhora está procurando por quem?
― Por Leora James; informaram-me que ela mora aqui.
― Sou eu, mas não moro mais aqui; venho semanalmente buscar a correspondência na Caixa Postal. Agora, estou residindo no Hotel Novo Mundo.
Depois desse emocional momento, Noilde Ramalho e Leora James voltaram a se encontrar por diversas vezes no Rio de Janeiro. Ao deixar Natal, a educadora norte-americana trabalhou em destacadas escolas na então capital do país. Nas conversas entre as duas educadoras, Miss James transmitia suas memórias do tempo vivido em Natal, principalmente sobre a desafiante experiência na direção da ED, na fase de implantação dessa pioneira iniciativa. Afora lamentável incidente com o governador Melo e Souza, católico fervoroso, o qual acreditou que ela fazia proselitismo da sua religião protestante junto às alunas, as reminiscências eram todas felizes e benfazejas. Uma hilariante passagem dessa época merece ser relembrada. Certo dia, a diretora Leora James recebe a visita de dona Inês Barreto, esposa de Juvino Barreto, moradores de casarão da Ribeira, onde, posteriormente, instalou-se o Colégio Salesiano São José. Uma lateral da área residencial da família Barreto ficava “vis-à-vis” com a fachada lateral do antigo prédio de dois pavimentos da Escola Doméstica. Dona Inês Barreto queixava-se e pedia providências contra a conduta de alguns insolentes rapazes que costumavam pular o muro da sua residência para subirem às árvores. Sem entender, Miss James disse que lamentava, mas esse problema não era da Escola. Dona Inês Barreto, então, explicou melhor ao dizer que os garotos subiam às árvores para olhar as professoras em seus aposentos no primeiro andar do prédio da Escola Doméstica...
Leora James casou com um patrício e foi morar nos Estados Unidos. Em julho de 1935, enviou longa carta escrita em inglês para Henrique Castriciano(arquivos da ED), na qual relata sua recente viuvez e o desejo de voltar a viver no Brasil. Residia em San Diego-Califórnia e sua assinatura passou para Mrs. Sheridan. Em 1939, antes de fixar residência no Brasil pela segunda vez, ela veio ao país a fim de receber grande homenagem prestada pela Associação Brasileira de Educação. A solenidade ocorreu na Federação das Academias de Letras do Brasil, no dia 1º de agosto, com a presença de Henrique Castriciano, Eloi de Souza e Adauto Câmara (orador).
Leora James, chamada por alguns familiares das alunas de “dona Miss James”, prestou relevante serviço a um dos mais relevantes projetos educacionais do nosso Estado e mesmo do Brasil.
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