Mozart: viagens e cartas (2) - Centro Universitário do Rio Grande do Norte - UNI-RN
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Mozart: viagens e cartas (2)
18.09.2014

O gênero epistolar sempre me desperta atenção, pois os textos das missivas guardam informações e nuances as quais permitem conclusões ou ilações sobre o perfil de quem as envia, ou de quem as recebe, bem assim das condições vividas em épocas distantes. Este gênero também ilustra a literatura de ficção, com adeptos fervorosos entre grandes escritores, a exemplo do brasileiro Cristovão Tezza, autor de três romances epistolares. Agora, as cartas que seguiam pelo correio ou através de portador cederam o lugar para as mensagens eletrônicas, rápidas e eficientes, mas sem a riqueza e o charme das missivas do passado.

Em texto anterior, sob o mesmo título, comentei que, em 1762, Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), então com 06 anos, e sua irmã Nannerl, cinco anos mais velha, deram um concerto no palácio de Schönbrunn, em Viena, na presença do imperador Francisco I, da imperatriz Maria Teresa e da princesa Maria Antonieta. Conta-se que Wolfgang tropeçou e caiu, no percurso ao palco, e a jovem Maria Antonieta (1755-1793) ajudou-o a se levantar. O menino Mozart então falou: "Sois muito gentil, quando for maior, casar-me-ei convosco". Sabe-se que não foi ele quem casou com a jovem princesa do Sacro Império Romano-Germânico, da linhagem direta dos Habsburgo. Porém, melhor talvez tivesse sido, porquanto Maria Antonieta veio a casar, em 1770, com o delfim da França, quatro anos depois alçado ao trono do país com o título de rei Luís XVI. Esse casamento político, para estreitar as relações entre a França e a Aústria, nunca foi bem aceito pelos franceses, e a rainha Maria Antonieta era sempre vista como intrusa. O casal não foi feliz, e seus tristes destinos os levaram à guilhotina, no correr da Revolução Francesa.

Mozart, aos 22 anos de idade, e a mãe, Anna Maria, levaram 9 dias de viagem, desde Mannheim – Alemanha – até Paris. Eles contavam com o apoio por parte da rainha da França Maria Antonieta, o que não ocorreu, para frustração dos dois. As fofocas sobre a impotência do rei Luís XVI, ou outro problema sexual, corriam célere de boca em boca, pois não chegava a gravidez da rainha, após 8 anos de casada. De Paris, conforme consta no livro Mozart – sua vida em cartas, de Glória Kaiser, a 4 de junho de 1778, Mozart escreveu para a irmã Nannerl: "(...) desde que a querida Maria Antonieta se tornou rainha, as pessoas daqui passaram a não gostar mais dos austríacos; em geral elas desconfiam de todos os que falam alemão. A querida Maria Antonieta mora em Versailles e realmente não tem a menor ideia de como a situação está difícil. Aliás, Nannerl, também andam falando de algo mais reservado. Imagine só a pobre Maria Antonieta. Ela está casada há oito anos, mas, no verdadeiro sentido da palavra, isto se deu só há um ano. Você compreende? O marido dela, o rei Luís XVI, tinha um problema nessa área. A esse respeito, eu, naturalmente, não posso reprimir uma observação – se a querida e loura Antonieta tivesse aceitado a minha proposta de casamento lá em Schönbrunn, tempos atrás, ela não teria tido esse problema".

No ótimo livro Maria Antonieta – Biografia, da escritora inglesa Antonia Fraser, à página 38, está escrito: "Talvez não seja verdade que o jovem Mozart tenha se atirado à jovem Maria Antonieta e declarado que se casaria com ela quando crescesse". No entanto, a carta acima confirma a cena que envolveu Mozart e Maria Antonieta, ambos ainda crianças, e sugere que a autora Antonia Fraser não tenha tido acesso à histórica missiva.


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