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Na fronteira da vida
02.08.2007
Bill Bondar, americano aposentado, 61 anos, sofreu ataque cardíaco no dia 23 de maio passado na calçada de sua casa, em vilarejo do estado de New Jersey. Momentos depois, sua mulher Mônica encontrou-o inconsciente, sem pulso e sem respiração. Os olhos estavam abertos, vidrados, mais pareciam duas bolas de gude. Com o coração parado, Bondar estava com morte clínica, uma situação crítica, mas reversível. Nesses casos, a rapidez e a precisão do atendimento podem evitar a morte cerebral, estado que avança, sem volta, para o fim da vida. Imediatamente, Mônica massageou com força o tórax do marido e discou o 911 (telefone de emergência dos Estados Unidos): “Meu esposo está morrendo”. Em poucos minutos, Bondar foi submetido à ressuscitação cárdio-pulmonar e levado para o hospital mais próximo. Uma hora depois, Mônica foi informada: o enfermo continuava em coma, apesar dos batimentos cardíacos e da pressão arterial estarem quase normais. Nesse instante, ela tomou a decisão de transferir o marido para o hospital da Universidade da Pennsylvania, distante cerca de 25 km. Essa decisão foi crucial para salvar a vida do paciente, o qual tinha as condições para receber tratamento conforme novo protocolo em prática naquele hospital universitário, para casos de emergência cardiológica.
Sabe-se que a falta de oxigênio no cérebro por cinco minutos causa graves danos aos neurônios. Entretanto, pesquisas têm mostrado que a morte celular não é um evento, mas um processo. O neurocientista da U. da Pennsylvania, Robert Neumar, pesquisou as alterações celulares em ratos submetidos a parada cardíaca e ressuscitação. Em 24 horas, os neurônios, pareciam normais, começando a deterioração após esse período. Dr. James R. Brorson, da Universidade de Chicago, observou o mesmo fenômeno em células nervosas desenvolvidas em cultura de tecidos. Assim, a privação do oxigênio por alguns minutos desencadeia um processo de deterioração celular que pode levar muitas horas. Os métodos tradicionais de tratamento mostraram-se incompetentes para mudar a seqüência da morte cerebral. Todavia, Dr. Lance Becker, diretor do Centro de Emergência Cardiológica que atendeu o paciente Bill Bondar, acredita numa nova arma terapêutica, ainda com pouca evidência científica, mas de eficácia comprovada. Trata-se da hipotermia, ou seja, fazer baixar a temperatura corporal do paciente para 33 graus centígrados. A primeira grande conferência internacional sobre o tema ocorreu em fevereiro deste ano, no Colorado – USA. Somente 225 hospitais, num total de 5700 nos Estados Unidos, instalaram equipamentos para realizarem hipotermia. Isso é natural, pois essa prática precisa de mais estudos. O certo é que uma terapia tão simples pode fazer uma diferença tão grande.
Bill Bondar estava em coma quando deu entrada no serviço dirigido pelo Dr. Lance Becker, em condições, contudo, que permitiam tratamento conforme o protocolo da hipotermia. Recebeu uma infusão salina resfriada a quatro graus e parte do seu corpo foi envolto com almofadas pelas quais circulavam água gelada. Sua temperatura corporal foi mantida em 33 graus centígrados por um dia, após o que, gradativamente, retornou ao normal. No 4º dia de internação, Bill acordou e suas primeiras palavras foram: “Como eu vim parar aqui?”.
A história desse americano de New Jersey ilustra longa reportagem sobre as fronteiras entre a vida e a morte, em casos de súbito ataque cardíaco, assinada por Jerry Adler e publicada na edição de 23/07/2007 da revista Newsweek.
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