Na loja, o bom mesmo... - Centro Universitário do Rio Grande do Norte - UNI-RN
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Na loja, o bom mesmo...
19.06.2008

Em casa, a mulher me chama para ir ao supermercado a fim de ajudá-la nas compras. Reluto, tento resistir mais uma vez, em diálogo já tão repetido. Então, ela usa um argumento que me fez vacilar: “Enfim, aqui só quem se alimenta sou eu?” Estava me preparando para escrever, sentado à mesa de estudos repleta de livros, revistas e jornais, em boa desordem, assim mantidos por receio de que algo se perca na hora de arrumar sem a devida supervisão. Para escrever, ainda uso a caneta e a folha de papel em branco. Parece até que as idéias fluem melhor quando manuscrevo, além de que sou por demais lento ao digitar. Estava ali, naquele fim de tarde chuvosa, sem um tema definido para o texto a ser escrito. O convite (convite?) de minha mulher passou a ganhar terreno. Ela tinha razão: afinal somente prover o dinheiro não é o bastante, como não o é em vários outros momentos da vida. Criei coragem - ou o contrário? -, levantei-me da cadeira, deixei de lado a escolha do tema e fui às compras no supermercado. Antes, porém, fizemos um pacto: toda a jornada não deveria passar de duas horas e, o que é mais importante, aquela rendição não se tornaria uma constante. Fui, vi e gostei. A loja estava alegre, vivendo o clima das festas do São João. À entrada, muitos chapéus de palha, quantas fitas coloridas, roupas juninas para crianças, música típica a realçar o apego às raízes nordestinas. Isso é bom de ver, em época de desapreço aos valores locais e regionais, em nome de falsa modernidade. É bem melhor a beleza do nosso São João do que a feiúra do estranho Halloween. Mais adiante, a barraca de comidas de milho, da canjica e da pamonha, dos bolos bonitos que tramam contra as dietas. Moças e rapazes vestidos a caráter sorriam por tudo e por nada. Na loja, o bom mesmo foram as pessoas que encontrei. Primeiro, a prima Elza. Há quanto tempo não nos víamos, apesar de morarmos no mesmo bairro. É sempre uma alegria reencontrá-la e receber um pouco da sua aura de bondade. Demos as notícias de filhos e netos e nos despedimos, rumo à missão das compras. Mais à frente, de longe, vejo a querida tia Zilpe. Lembrando-me da minha mãe, pedi-lhe a benção. Entre prateleiras cheias de produtos, recebi a benção da tia e me senti bem. Contou um pouco sobre seu estado de saúde e falou de outros assuntos que nos fizeram rir. Advogada atuante, mostrou que está em plena forma. Disse que Saulo, seu marido, pode se esquecer de tudo, menos da hora de ir à Igreja e da consulta com o médico, ou seja, cuida bem da saúde física e espiritual. Por que as lojas de supermercados não criam um espaço calmo, onde as pessoas pudessem sentar, tomar um chá ou café e conversar um pouco? Será que estou na contramão do tempo, ou então, dizendo uma bobagem? Já na fila do caixa, a alegria de encontrar duas pessoas amigas, mãe e filho, ótimos cantores líricos, uma soprano e um tenor, que moraram em Natal, por vários anos, e, hoje, residem em Santa Catarina. Disseram que pretendem vir mais a Natal, o que é muito bom para a arte musical da cidade. Também na fila do caixa, um amigo chegou mais perto para dizer que lê e gosta dos artigos que escrevo. Mesmo que não fosse tão verdadeiro, fiquei contente. E isso me fez lembrar a frase de Machado de Assis: “A primeira condição de quem escreve é não aborrecer”. Retornei para casa, não somente com a sensação de ter sido solidário com a minha mulher, mas também feliz pelo bom uso do tempo naquela tarde/noite chuvosa. Voltei à mesa e ao texto, agora mais tranqüilo do que antes, pois o tema já não era problema. Foi só sentar e escrever.

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