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Já vivi várias décadas, e nunca cheguei nem a pensar em ver um tempo de Natal e Ano-Novo tão incomum e estranho. A humanidade está assustada, apesar de não parecer para alguns grupos sociais. O estresse, de maior ou de menor grau, faz parte do dia a dia das pessoas. O medo, felizmente, caminha de mãos dadas com a esperança, neste final de 2020. Medo da morte por Covid-19, ou da própria doença, ao lado da crença no êxito da ciência de controlar a virose. Mas isso sempre ocorre na vida dos seres humanos: perante uma ameaça, surge a expectativa de vencê-la. Ouvi de um famoso cientista que 2021 será um ano de esperança e de paciência. De esperança porque as vacinas estão próximas, e de paciência porque o caminho da pesquisa séria não é rápido, por vezes, é preciso rever os sucessos e até retroceder para etapas pregressas.
Comecei esta crônica com a ênfase aos tempos atípicos deste Natal e Ano-Novo. Há cerca de 50 anos, nossa família e alguns amigos se reúnem em uma casa na praia de Pirangi do Norte para celebrar essas datas festivas, para ressaltar o amor, o bem-querer e as amizades, afora a veneração ao Menino Deus. Agora, essa tradição familiar, a qual ocorre na maioria dos lares, está ameaçada, a fim de que se preserve a saúde de todos, em especial dos mais idosos e dos portadores de comorbidades. Os tempos são árduos, a Covid-19 chegou perto de nós, dos nossos familiares, dos nossos amigos. Vários colegas de profissão, companheiros de jornadas prévias, conhecidos, foram tragados pela doença. Um velho amigo, com mais de 70, perdeu um filho de 35 anos. É tudo muito triste, até mesmo cruel, posso dizer. Nizan Guanaes, que teve Covid, em crônica no jornal Folha de S. Paulo, deixou essa mensagem: “Não saí do meu quarto um santo, mas acho que saí mais humano. Pensar em todos é a melhor maneira de pensar em si. (...) enquanto não tivermos a vacina, ela (a esperança) é tudo o que temos”.
Há nove meses, estamos em isolamento social, eu e minha esposa. Nessa época de grandes avanços tecnológicos, o isolamento social é mais físico, porque os meios digitais propiciam os frios contatos a distância, com o uso de palavras e de imagens. Os seres humanos, premidos pela Covid-19, tiveram de usar os meios eletrônicos de comunicação de forma rápida e eficaz. Aprendi a trabalhar em casa, para fazer a gestão do UNI-RN, a qual me ocupa várias horas do dia. Sinto-me útil e a serviço de uma boa causa. Em nossa morada, criamos um lugar seguro de conversa, que chamamos de parlatório, um espaço dividido por uma lâmina de vidro, onde recebemos filhos e netos, nós do lado de dentro e eles no terraço. Esta semana, num desses encontros, senti um nó na garganta: o netinho mais novo, Pedro, de 05 anos, disse para a mãe, com carinha de choro: “Mamãe, quando é que eu posso entrar e ficar junto de vovó e de vovô?”
Daladier Pessoa Cunha Lima
Reitor do UNI-RN
Artigo publicado na edição desta quinta-feira (24/12/2020) do jornal Tribuna do Norte
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