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NEM SEMPRE, NEM NUNCA
20.04.2006
“Breve história da medicina: 500 d. C. – Coma esta raiz e você ficará são. 1000 d. C. – Raiz é coisa de pagão. Faça uma oração a Deus que está no céu. 1792 d. C. – Quem reina é a razão. Tome, pois, esta poção. 1917 d. C. – Poção não resolve. Tome este comprimido. 1950 d. C. – Comprimido não cura. Tome antibiótico. 2002 d. C. – Antibiótico em excesso não é recomendável. Use esta raiz”.
Esta síntese histórica é a página inicial do best-seller “A Assustadora História da Medicina”, de autoria do escritor e médico britânico Richard Gordon, traduzido e lançado no Brasil, em 2004, uma bem humorada trajetória da ciência médica. A ironia de Richard Gordon aponta para o uso das raízes, mesmo após a evolução fantástica da medicina, ou seja, o que é prescrito hoje pode ser proscrito amanhã, e vice-versa.
A cirurgia, prática médica que evolui de forma contínua, teve, historicamente, um obstáculo que parecia intransponível: a dor, durante os procedimentos. Uma referência definitiva no avanço da medicina é a descoberta da anestesia. Apenas 150 anos nos separam do tempo em que as operações, para serem realizadas, precisavam de mais auxiliares: pessoas fortes capazes de segurar os sofredores pacientes, durante os “martírios cirúrgicos”. Se a dor paga os pecados e redime os erros cometidos, as almas desses pacientes (pacientes?) falecidos na vigência ou depois dos atos cirúrgicos da época devem ter ido direto para o céu. Dois dentistas são os principais protagonistas que a história registra como descobridores da anestesia, em meados do século XIX. Horace Wells, dentista em Connecticut (EUA), usou óxido nitroso, mas a novidade fracassou. Logo depois, outro odontólogo, William Thomas Green Morton, em 1846, usou éter para anestesiar um homem de 21 anos, que foi operado no Hospital Geral de Massachussetts (EUA), com absoluto sucesso. Oficialmente, esse é o marco da descoberta da anestesia, saudado pelo Peoples’s London Journal com a manchete: “Salve Esta Hora Feliz! Conquistamos a Dor!”
Antes dessa conquista, várias tentativas eram praticadas, na guerra contra a dor. Diversas substâncias foram usadas, por seus possíveis efeitos anestésicos, ou narcóticos, como, por exemplo, os opiáceos, além do álcool, à guisa de que um grande “porre” tornasse a pessoa mais resistente às sensações dolorosas. Dentre essas experiências, figura o mesmerismo, precursor da hipnose, muito recomendado antes do uso rotineiro do éter nos procedimentos cirúrgicos. Atualmente, revigora-se a prática da hipnose como substituto ou, mais precisamente, como complemento da anestesia. Hipnotizada, a pessoa necessita menor dose de medicamento anestésico, para se submeter à cirurgia, pois está desligado o componente psicológico da dor. Em todo o mundo ressurge a hipnose, com esse desiderato, uma volta ao que se fazia dois séculos atrás. Dra. Maria Elisabeth Faymonville, do Hospital Universitário de Liége, Bélgica, tem mais de 5000 casos relatados do uso da hipnose, como coadjuvante em anestesia geral e local. Portanto, na medicina, a despeito de toda a evolução, permanece válida a emblemática expressão: “Nem sempre, nem nunca”.
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