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Nêmesis
02.05.2013

Na mitologia grega, Nêmesis é a deusa da vingança, a força voltada para abater todas as desmesuras, os excessos. No Houaiss, por extensão de sentido: ato ou efeito de retaliar; ciúme, inveja; adversário temível. No Cambridge International Dictionary of English: causa de punição que é merecida e não pode ser evitada; oponente, grande rival. Nêmesis é o título do livro de Philip Roth, lançado em 2010/2011. Não é longa, mas é uma obra magistral, um romance repleto de suspenses, com uma narrativa que conduz o leitor a se deleitar em cada página, com cada frase, ao ponto de merecer próxima releitura. Do mesmo autor, essa obra compõe um quarteto de livros curtos, que convergem para desfechos trágicos ou de grandes traumas. Em entrevista a Lúcia Guimarães, do Estadão, da sua casa em uma fazenda na Nova Inglaterra – Estados Unidos –, Roth falou sobre o ciclo dos romances curtos: "Homem Comum, em que a nêmese é a doença e a morte. Indignação, a nêmese é a própria indignação e a guerra. No terceiro, A Humilhação, é a circunstância fora do controle que aflige o protagonista. E no romance final – Nêmesis –, é a epidemia de pólio de 1944. Nessa entrevista, à pergunta sobre a injustiça de não haver recebido o Prêmio Nobel de literatura, ele convidou a visitante para o jardim, mandou olhar a natureza em volta e devolveu a pergunta: "Você acha que ainda preciso de um Nobel?".

O mais premiado escritor norte-americano da sua geração, Philip Milton Roth, norte-americano de origem judaica, nasceu na cidade de Newark – New Jersey – em 19 de março de 1933. Nos tempos atuais, é visto e reconhecido como o melhor escritor do seu país, principalmente no romance, sendo um dos mais aplaudidos do mundo nesse gênero. Publicou 31 obras, desde 1959, com o primeiro título Goodbye Columbus, e o mais recente, sob o título Nêmesis, o qual será o derradeiro do escritor, conforme disse o próprio Roth. São assuntos recorrentes nos textos do autor a identidade dos judeus dos Estados Unidos, as circunstâncias do sexo, os vínculos com sua origem e as cidades onde nasceu ou estudou, além de um traço constante de tragédia. Seus personagens principais têm sempre boa formação cultural, e até se aventa a possível condição de "alter-ego", ou um segundo eu, pois muitas das figuras humanas dos seus romances se confundem com o próprio autor. Sobre o assunto, Roth comenta: "Eu escrevo ficção e dizem que é autobiografia. Eu escrevo autobiografia e dizem que é ficção. Então, como eu sou meio ‘burro’ e eles são bem espertos, deixem eles decidirem o que é ou não é".

Pretendo ler mais obras desse grande escritor, além das que já li e estão no meu acervo: A Marca Humana – uma obra prima –, Zuckerman Acorrentado, que encerra três romances – O Escritor Fantasma, Zucherman Libertado, Lição de Anatomia – e Nêmesis, com o qual o escritor se despede da sua produção literária. Em entrevista para o New York Times, afirmou: "Não tenho mais a resistência física para suportar a frustração. Escrever é frustração – frustração diária. Não consigo mais encarar dias em que jogo fora as cinco páginas que escrevi".

Nêmesis tem como tema central uma epidemia de pólio, em 1944, na cidade Newark, terra natal de Roth, e como personagem principal Bucky Cantor, um jovem atleta de 23 anos, professor responsável pelo pátio do recreio da escola primária Chancellor, na região de maior presença de famílias judias. Bucky, aos 20 anos, sentiu-se frustrado, por não conseguir se alistar para as forças armadas, devido à forte miopia, logo após o ataque japonês à frota americana em Pearl Harbor, a 7 de dezembro de 1941. Tendo sido uma das vítimas da Pólio, sua decepção maior, no entanto, foi ver essa temível doença se alastrar entre os alunos do pátio de recreio da escola, e ele se sentir culpado por tamanha desgraça. No caso, um processo cósmico – a epidemia de pólio – levou à tragédia pessoal de Bucky Cantor.