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Noilde Pessoa Ramalho
04.01.2011
Tem-se a impressão que ninguém no Rio Grande do Norte foi tão homenageado em vida quanto Noilde Ramalho. Refletiu-se agora essa condição, durante seus funerais, pela impressionante manifestação de bem-querer que a cidade de Natal prestou à mulher que dedicou sua vida à educação. Em 1945, Noilde Ramalho foi nomeada Diretora da Escola Doméstica de Natal, função que exerceu até 25 de dezembro de 2010, data do seu encantamento. Durante todas essas décadas, dedicou-se de corpo e alma à Escola, renunciou casamento, devotou-se ao ensino de várias gerações de alunas, foi anfitriã de visitas ilustres – inclusive presidentes do país –, adaptou-se às mudanças, criou um colégio e uma faculdade, e, sobretudo, deu lições de grandeza humana através de ações, de gestos, de atitudes, no dia a dia e ao longo do tempo. Na última conversa que tivemos, na véspera do embarque em um navio com alguns amigos, em viagem de lazer, dei-lhe notícias do menino vendedor de cocadas que certo dia lhe pedira apoio para estudar em um bom colégio, foi atendido, e agora é aluno destaque da FARN, com bolsa integral do Prouni; falamos de outros assuntos e dos planos para o futuro. Estava sempre a pensar no futuro, porquanto tinha uma energia vinda de fonte que nunca secava, a qual parecia se replicar em pessoas próximas. Brindava o passado, vivia o presente e gostava de olhar para o futuro.
Não sabia ela, não sabia ninguém, que aquela viagem de navio não a traria de volta ao seu porto seguro. Voltou somente o corpo, pois seu espírito desprendeu-se, ganhou a eternidade, encheu-se de luz e foi para junto de Deus. Mesmo com a certeza de que Noilde Ramalho recebeu a graça do Senhor, reservada aos bons e aos adeptos à prática do bem, a tristeza pela sua ausência é enorme: vai fazer falta, muita falta, deixou saudades, muitas saudades. Mas seus exemplos continuam, persistem as ações em prol da educação, por meio dos que com ela aprenderam, dos seus amigos, dos discípulos, das gerações que a conheceram e receberam suas bênçãos educacionais. Falo em bênçãos, ou seja, algo além de sábios ensinamentos, pois nasceram de uma figura humana cuja aura irradiava amor, grande amor ao trabalho, à natureza e à vida; amor às pessoas, sem restrições, amor à humanidade, amor especial às crianças de quem sempre ganhava um sorriso capaz de mostrar o vínculo afetivo com aquelas pequenas criaturas. Otimismo e bom humor não lhe faltavam, e apesar da longa idade, nada a abatia, tudo era motivo para renovar-lhe a coragem de lutar por suas crenças e convicções.
Tenho a honra de ser biógrafo dessa mulher notável, com o livro “Noilde Ramalho – Uma História de Amor à Educação”, de 554 páginas, publicado em 2004. O título do livro já define o conteúdo, o qual revela a trajetória de quem fez renúncias para se dedicar à educação, em uma jornada de sete décadas, a fim de levar avante a Escola Doméstica de Natal, um legado do poeta Henrique Castriciano, bem como para criar e dar vida ao Complexo Educacional H. Castriciano e à FARN, um conjunto de ensino, hoje, com mais de sete mil alunos. Pessoa fascinante, estava sempre a surpreender no vigor físico, na vivacidade, na alegria, nos gestos de afeto e de solidariedade. De porte altivo, era discreta, bonita e elegante.
Sua morte deixa de luto o Rio Grande do Norte e o país. Agora, seu nome passa a figurar na galeria dos grandes nomes que marcaram a educação brasileira. A profunda fé em Deus era presença forte em suas emoções. A vida dessa pessoa tão feliz findou em meio à paixão de viajar, nas terras de Santa Catarina, na cidade de São Francisco do Sul, como se quisesse render graças ao Santo do coração puro e o mais próximo dos Evangelhos. Entregou-se aos céus no dia da festa maior da cristandade, como se fosse para exaltar a vinda do Salvador. Bem-aventurada Noilde Pessoa Ramalho: uma multidão de amigos e admiradores rende-lhe honras, guarda ternas lembranças e dedica-lhe fervorosas orações.
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