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Eunice Pessoa da Cunha Lima chegou ao mundo em 30 de outubro de 1912, na cidade de Tacima, na Paraíba. Nasceu em um bonito sobrado, construído no final do século XIX, o qual visitei cerca de quatro anos atrás. Era a casa onde moravam seus avós maternos e local dos primeiros namoros do seu pai, Francisco Targino Pessoa, com sua mãe, Olindina Ramalho. As famílias Pessoa e Ramalho se uniram naquela região perto do brejo paraibano, já no alvorecer do século XX, quando Francisco Targino e Olindina foram ao altar para consagrar o amor que floresceu e perdurou por muitos e muitos anos. O casal gerou nove filhos, sendo Eunice a segunda da prole.
Nas primeiras décadas do século passado, Francisco Targino Pessoa veio morar com a família no Rio Grande do Norte, na cidade de Nova Cruz. Nesta cidade, a linda Eunice – perfil delgado, cabelos em cachos – viveu sua infância e fez seus primeiros estudos. A menina-moça rumou para Natal, a fim de estudar na Escola Doméstica, à época, a grande novidade do ensino feminino no Brasil. Mas, na transição das décadas 1920/1930, chegou a Nova Cruz, vindo da Paraíba, um moço bonito e de olhos azuis, boa conversa, risonho e trabalhador. Aquele "olhar azul" de Diógenes fascinou a mocinha Eunice e, quase por encanto, o amor selou o destino e o futuro dessas duas pessoas. Diógenes e Eunice – ou Nicinha, conforme ele a chamava – amaram-se, casaram-se, formaram uma feliz família, viveram juntos alegrias e tristezas, na saúde e na doença, até o dia 1º de novembro de 1972, infausta data prestes a completar quatro décadas, quando aquele "olhar azul" se apagou para sempre. O porto seguro do núcleo familiar foi sempre Nova Cruz, e do casal nasceram seis filhos: Aryam (falecido), Gilma, Diogenes, Daladier, Marcelo e Olindina Maria.
Estando próximo do dia do centenário de nascimento de minha mãe, cerca de onze anos depois da sua morte, recordo-a de forma vívida. Sua imagem física permanece, mesmo que para alguns somente pelos retratos, e ficou sua história exemplar de filha, de esposa, de mãe, de irmã, de avó e de amiga; ficaram seus ditames de justiça e de desvelo pela família, sua típica sinceridade, com ênfase ao repreender ou aconselhar, sua discrição em todos os instantes e lugares. Sentia orgulho da família e da sua vida digna e ética; era simples, humilde mesmo, porém, se preciso, mostrava a altivez. Em sonhos ou em pensamentos, vez por outra, estou a vê-la no trabalho na loja de tecidos ao lado do meu pai, ou sentada à mesa de refeições, ou ainda na Matriz de Nova Cruz, contrita a rezar, em seu lugar, na ala esquerda da Igreja. Vejo-a seringa à mão, pronta para aplicar injeções diárias de insulina em meu pai, diabético. Recordo-a já mais velha, tempos da viuvez, em leituras de livros e revistas, a fazer crochê, a treinar palavras cruzadas ou a mostrar que sabia pintar belos quadros. Tendo sido uma pessoa muito feliz, vejo-a também sorrindo – sem gargalhar –, a exemplo dos instantes antes e depois das grandes viagens que fez, após vir morar em Natal.
Encerro esta página de evocação, no centenário de nascimento de minha querida mãe, Eunice, com o encanto de mensagem escrita por Lília, mimosa netinha de 10 anos, que mandou para minha filha Romeica, há poucos dias, uma carta de aniversário: "mãe, gostaria, primeiramente, de agradecer tudo o que você faz para mim e por mim. (...) Hoje, faz 44 anos que você existe, graças a Deus, e 10 anos que estou com você. Mas apenas 10 anos é muito pouco para sentir o amor que sinto por você. Te amo infinito. Nesta página não é possível demonstrar o que sinto por você". Quero parafrasear Lilinha, nos seus belos e puros dizeres, pois qualquer tempo é pouco e qualquer espaço é pequeno para o amor infinito de um filho ou de uma filha por uma mãe ou por um pai.
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