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O papa e o mundo
10.05.2007

Líder espiritual da Igreja Católica, o Santo Padre exerce também o poder político, pois é o chefe do Estado do Vaticano. No passado, esse poder político era muito mais abrangente, haja vista a criação do Sacro Império Romano, em 800, quando o papa Leão III coroou Carlos Magno como Imperador. Por séculos, alguns impérios mantiveram a tradição da coroação dos imperadores pelos papas. O Tratado de Tordesilhas, que dividia o Novo Mundo entre Portugal e Espanha, fez-se por meio de uma bula papal, bem assim a adoção do calendário gregoriano, entre outras importantes decisões de âmbito mundial. Hoje, esse poder político não permanece tão institucionalizado, porém, permanece como fator influenciador nas opções estratégicas que afetam a vida das nações e da própria humanidade. A queda do Muro de Berlim (09-11-1989) e a debacle da União Soviética (1991), não ocorreram por ação direta do Vaticano, mas, nessa direção, repercutiram muito as idéias e as mensagens de João Paulo II. “Não tenham medo”, disse o papa aos operários de Gdansk, em 1978, palavras incisivas a favor da liberdade e contra a opressão. Ele pregava que a divisão da Europa em duas não passava de um acidente. Afirmava ser a cultura não produto de forças econômicas, como queriam os marxistas, mas do espírito humano; e nação, antes de mais nada, se forjava em uma realidade cultural. O papa polonês defendia: “É na cultura de uma nação que se manifesta sua soberania fundamental”, para ressaltar as raízes culturais da Europa antes do comunismo, exortando para o resgate da história confiscada de todos os povos do Leste. No livro “João Paulo II – Biografia”, de Bernard Lecomte (pág 390), há citação de artigo de Mikhail Gorbachev, escrito dois anos após a extinção da URSS: “Hoje, podemos afirmar que tudo que aconteceu no Leste europeu nos últimos anos não teria sido possível sem a presença deste papa, sem o papel eminente -- inclusive no plano político – que ele desempenhou no cenário mundial”. Jesus disse a Simão Pedro: “... tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. E eu te darei as chaves do reino dos céus” (Evangelho de São Mateus). Cristo sabia do próximo retorno ao Pai e escolhia o apóstolo para continuar sua missão na terra. Até o momento atual, são 264 Pontífices que assumiram o trono de São Pedro, maioria de italianos, 212, seguidos dos franceses, 17. Anterior ao alemão Bento XVI, são seis conterrâneos de Joseph Ratzinger. Apenas um Sumo Pontífice falava o português como língua nativa, o papa João XXI (1215-1277), nascido em Lisboa, com o nome de batismo Pedro Julião. Além de médico, ele se dedicou aos estudos teológicos e deixou, entre outros, o tratado “Summulae Logicales”, profunda análise da lógica aristotélica. Antes de ser eleito papa, Pedro Hispânico – como também era conhecido – exerceu as funções de médico do Santo Padre Gregório X. Bento XVI, sucessor de um dos mais carismáticos papas da história, esta semana vem abençoar de perto o povo brasileiro. Considerado teólogo radical, surpreendeu ao escolher para seu papado os caminhos da conciliação, a começar pelo modelo da ordem beneditina. Visto como paradoxal, talvez queira conciliar passado e presente, tradição e renovação. Bento XVI tem um forte papel a desempenhar, não somente no seio da Igreja, mas também em um mundo que nunca esteve a carecer tanto dos sentimentos de concórdia, de amor e de paz.

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