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Tenho muitas razões para ser feliz, entre as quais está a chance de ver e ouvir meus pássaros matinais. Ao acordar, logo cedo, escuto o canto alegre dos bem-te-vis, os sinais sonoros das rolinhas e das lavadeiras, como se fossem uma mensagem de paz para o mundo. Há um outro canto bonito, um tanto alto, vindo de um pássaro pequeno, fácil de se ouvir e difícil de se ver, cujo nome não consigo saber. Três ou quatro vezes por semana saio para caminhar dentro de área contígua à casa onde moro, quando, além de ouvir, encanto-me com a visão dessas maravilhosas figuras dotadas de asas para voar. São donas do céu e da terra, voantes para longe ou para perto, pousam nas árvores, nos fios, nos telhados, nas antenas, nos muros ou no chão. Alguns desses amigos voantes gostam dos lugares mais altos, os píncaros da glória, quero dizer, o cimo das mangueiras ou da jaqueira, a palha dos coqueiros, as cumeeiras das casas. Eles parecem querer se amostrar quando estão pousados em galhos finos que balançam ao vento, sem se assustarem, como a exibirem algumas das suas superiores virtudes.
Os bem-te-vis são lindos, com seus papos amarelos, seus cantos vibrantes e festivos, suas poses de vencedores, seus ares de campeões. Por vezes, agitam as asas e cantam ao mesmo tempo, como se quisessem fazer uma saudação aos espectadores. Não sei porque ligo esse seus gestos às boas predições, ao otimismo, aos bons augúrios. Quando estão mais próximos, paro de caminhar a fim de paquerar com esses bichinhos jubilosos e bem-dispostos. Então, como a pressentir uma aura de afeição, eles empinam os pescoços e soltam seus cantos cheios de bom humor, de esperança e de proteção contra mazelas, tristezas e maus-olhados. Você já parou para ver um bem-te-vi o mais perto possível, para perceber o quanto eles são bonitos e garbosos? Alguns são enormes, com o amarelo do ventre a dominar o visual, e não são tão ariscos assim. Estão por toda parte, são urbanos e gostam de ser admirados. Dê-lhes essa alegria e sinta-se mais feliz, com um simples costume de observar, ver e escutar os bem-te-vis.
Parece até que caminho em um grande viveiro, a céu aberto, aliás, todo aberto, sem grades nem teto. Dentro deste viveiro, existem mangueiras, jaqueira, coqueiros, palmeiras e outras plantas menores. É dentro deste espaço verde onde passeio pela manhã, ao nascer do sol, e onde tenho encontro marcado com meus amigos alados. As rolinhas são cinzentas só na cor, pois transmitem paz e ditosos alvitres. São belas pelos seus perfis esguios e delicados, são faceiras, uma quase perfeição de linhas curvas. Seus cantos não têm o júbilo dos cantos dos bem-te-vis, mas são amenos e calmos, quase um convite à reflexão sobre a vida e sobre a própria natureza. Seus voos são mais baixos, gostam de caminhar pelo chão e estão quase sempre unidas em pares. Bem que poderiam ser tidas como um dos símbolos do bem-querer universal; um exemplo vivo das coisas singelas e modestas que inspiram a ternura do mundo. Salve a singeleza desses pássaros tão simples e tão bonitos.
Ah, as lavadeiras, parecem frágeis e lembram passagens místicas. Vou escrever pouco sobre elas, não por menor apreço, mas por falta de espaço nesta crônica. Seus cantos breves e abertos são dos primeiros a se ouvir, como se fossem prévios sinais do raiar do dia. Pássaros menores também compõem este cenário lúdico e natural, de imagens e de som. Há também os pássaros bissextos, azulões, sabiás, anuns, galos-de-campina, e outros menos falados. Quanta lindeza existe no pequenino e feliz beija-flor, bichinhos miúdos, bicos longos, que param no ar ao agito ultrarrápido das suas asas. Você já viu um ninho de beija-flor? Se não viu ainda, passe a procurar, porque não vai se arrepender. Tanta perfeição só faz pensar em um milagre de Deus.
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